Cursos, visitas a bons projetos e leitura de livros técnicos e especializados são dicas para iniciar a atividade
Texto João Mathias
Consultor Nilton Rojas*
É comum ver carpas sendo utilizadas como efeito decorativo de lagos, tanques e espelhos d'água em áreas públicas e privadas. Mas, além das espécies de escamas coloridas, há outras, não tão bonitas, destinadas ao consumo humano. A carne de carpa era parte da dieta de povos da antiguidade, inclusive dos romanos. Na idade média, eram criadas por monges, preocupados em garantir alimentos frescos à população. Relatos indicam que, até o período da revolução industrial, em meados do século XVIII, era um dos pescados mais consumidos no mundo. Caracterizada por um "gosto de barro", a carne de carpa tem sabor mais suave quando a espécie é criada em águas limpas. Por isso, a origem da água deve ser conhecida. Ela pode ser de nascentes, riachos e açudes, desde que livres de contaminação por defensivos agrícolas, herbicidas, metais pesados e esgoto. Se a idéia é aproveitar um lago na propriedade, deve-se analisar se é preciso fazer reparos ou adequações, além de retirar cobras, sapos, traíras, entre outros invasores que podem existir no local. O volume de água também influencia o desenvolvimento dos peixes, portanto, a recomendação é verificar a quantidade de água disponível na propriedade, para dimensionar o tamanho e o número de viveiros. Se o volume for insuficiente, a dica é diminuir a densidade de peixes para conhecer a capacidade do local ou ainda transferir água de outro lugar.Com estrutura adequada, projeto de implantação e orientação técnica especializada, a criação de carpas pode ser uma atividade prazerosa e rentável. Por isso, também é importante verificar se a região do cultivo oferece viabilidade econômica ao negócio. No Estado de São Paulo, por exemplo, o mercado promissor para as carpas está no atendimento a pesqueiros. As espécies criadas comercialmente são a carpa comum (Cyprinus carpio), que apresenta as variedades "húngara" e "escama", todas com hábito alimentar bentófago - comem pequenos animais e outros detritos do fundo -; a carpa-capim (Ctenopharyngodon idella), como o próprio nome diz, alimenta-se de vegetais; a carpa-prateada (Hypophthalmichthys molitrix) consome algas; e a carpa-cabeçuda (Aristichthys nobilis) que come o zooplâncton - pequenos animais que vivem dentro da água. |
Raio X | ||
CRIAÇÃO MÍNIMA: três milheiros INVESTIMENTO INICIAL: 7 mil reais o hectare pelo sistema extensivo e 20 mil reais pelo semi-intensivo RETORNO: logo após o primeiro ano de criação REPRODUÇÃO: uma vez por ano, mas pode ser induzida | ||
Mãos à obra | ||
AMBIENTE - as carpas gostam de águas pouco profundas, por isso, os lagos ou viveiros devem ter de um a dois metros de profundidade. Em ambiente natural, preferem que no local tenha vegetação. VIVEIROS - podem ser construídos por interceptação do curso de água, como um tipo de barragem construída no leito de pequenos riachos, ou a água pode ser deslocada para áreas vizinhas onde são construídos os viveiros. Nos dois casos, o produtor deve solicitar autorização de órgãos ambientais para implantação. SISTEMA EXTENSIVO - apesar de o investimento exigido ser de 7 mil reais por hectare, a produtividade é reduzida, de três a sete toneladas por hectare ao ano. A vantagem desse sistema está na criação conjunta das diferentes espécies de carpas em baixas densidades (um peixe para cada quatro ou cinco metros quadrados), além de não precisar de ração para alimentá-las. Os peixes consomem o que é produzido pela adubação da água e os vegetais colocados no viveiro. SISTEMA SEMI-INTENSIVO - a produtividade é maior se comparada ao sistema extensivo, com variação de quatro a 10 toneladas por hectare ao ano. Os investimentos para a implantação são, no entanto, mais altos e podem chegar a 20 mil reais por hectare. Como nesse sistema o uso de ração é necessário, o capital de giro da atividade também é maior. TERMINAÇÃO - para os dois sistemas de produção, o piscicultor que adquirir alevinos muito pequenos - ao redor de cinco centímetros - deve criar os peixes até a fase juvenil. Nessa etapa, a densidade de estocagem varia de 10 a 40 peixes por metro quadrado e leva de 30 a 60 dias, com sobrevivência de 80 a 90%. A fase seguinte é a da engorda ou terminação. Nela, a densidade de estocagem para o sistema semi-intensivo é de 0,5 a dois peixes por metro quadrado. Em um ano, se bem conduzidos, os peixes chegam a um peso final entre 1,5 a 2,5 quilogramas. ALIMENTAÇÃO - as carpas se alimentam durante o ano inteiro. Períodos que apresentam temperaturas amenas, como nos meses de primavera e outono, são quando elas têm mais apetite. Para a fase de engorda ou terminação do sistema semi-intensivo, o produtor pode usar ração comercial para peixes com 24 a 28% de proteína bruta. REPRODUÇÃO - a reprodução natural ocorre uma vez por ano, ao final do inverno ou início da primavera. Contudo, são reproduzidas artificialmente por meio da aplicação de hormônios oriundos da hipófise da própria espécie, que são injetados nos reprodutores, possibilitando a reprodução e a produção controlada de alevinos. Devido à necessidade de conhecimento técnico para realizar esse processo, recomenda-se a orientação de um profissional. Uma recomendação importante é, nos primeiros anos de criação, comprar alevinos de viveiristas idôneos. |
*Nilton Rojas é pequisador científico do Instituo de Pesca, Caixa Postal 1052, CEP 15025-970, São José do Rio Preto, São Paulo, tel. (17) 3232-1777, niltonrojas@pesca.sp.gov.br
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