Feng Shui para o amor
Por meio da decoração de ambientes, a técnica oriental ajuda a atrair boas energias que fortalecem os laços afetivos. Confira cinco sugestões para receber o amor de braços abertos
por Letícia Gonçalves
MÓVEIS BEM POSICIONADOS
Procure arrumá-los de forma que, ao sentar ou deitar, você não fique de costas para o fluxo de passagem, pois isso acelera a energia e deixa os espaços vazios, influenciando a sensação de solidão.
DIREÇÃO CERTA
Com uma bússola, identifique a direção sudoeste dos cômodos mais importantes da casa. Decore com símbolos românticos, como fotos e objetos aos pares, voltados para essa direção, que está associada ao fortalecimento dos relacionamentos.
PAIXÃO E ALEGRIA
Em um local de passagem, coloque um vaso com sete rosas da mesma cor e duas rosas brancas. Essa proporção, no feng shui, tem relação com o elemento fogo, ligado a fatores como paixão, alegria e intimidade.
PREDOMÍNIO DE UNIÃO
No ambiente onde o casal costuma conversar ou ficar muito tempo, coloque um quadro ou um objeto em que as cores amarela e laranja prevaleçam. Esses tons estão associados à unificação, lealdade e organização.
CANTINHO DE CADA UM
Crie um local com a decoração e os objetos de preferência da pessoa. Ter um espaço próprio não significa isolar-se da convivência em casal. Pelo contrário: ajuda a construir um ambiente de respeito mútuo.
O gosto do ciúme
Para muitos, o sentimento é sinônimo de amor e cuidado, mas basta errar um pouco na dose para ele fazer desandar a receita de um relacionamento saudável
por Patrícia Affonso
O ciúme exagerado faz uma relação se tornar frágil tal qual a casca do ovo |
Ele é como um inquilino que mora dentro do peito. Discreto no começo, não sinaliza problema e até é encarado com certa graça. Mas basta um olhar desviado ou uma frase mal interpretada para o sentimento, antes pequeno, tomar grandes proporções e criar uma confusão daquelas. Estamos falando do ciúme.
Por causa dele, nos sentimos traídos e incompreendidos, falamos mais do que devíamos. O resultado de tudo isso é um baque capaz de abalar até mesmo os relacionamentos mais sólidos.
O intrigante é que, mesmo sabendo disso, estamos sujeitos a vivenciá-lo repetidas vezes. "Essa é uma emoção normal, muito presente na vida do ser humano", explica o psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, autor do livro Ciúme - o lado amargo do amor (Editora Ágora). Ter ciúme é tão natural quanto uma dor: todo mundo sente vez ou outra e toma as medidas necessárias para que passe.
O problema é quando essa dor começa a ser uma companhia constante. São tantos os sentimentos que vêm à tona e ajudam na explosão de uma crise de ciúme que fica difícil defini-lo. No entanto, é essencial ressaltar que, em qualquer circunstância, essa emoção caminha de mãos dadas com a insegurança.
"O ciúme surge do receio que alguém possa tomar nosso lugar, nos colocando em uma situação de desprezo ou esquecimento", analisa Miguel Perosa, professor do departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A sensação é de ameaça. E você sabe, em momentos assim, todos os nossos instintos entram em cena e podem fugir do controle.
Isso explica as inúmeras manchetes de jornal com finais tristes, vividas por pessoas ciumentas. Mas há quem prefira analisar os fatos por uma óptica mais branda. Para muita gente, o ciúme é como uma espécie de termômetro do amor e, assim sendo, sua ausência é encarada como descaso.
"É uma visão mais romântica que só funciona quando se trata de uma dose moderada, que não ultrapasse os limites da individualidade", completa Perosa. Baseado nessa versão surgiu o ditado popular "Quem ama cuida" - frase que vive na ponta da língua dos ciumentos e é utilizada como álibi para justificar suas atitudes possessivas. Acontece que, embora sejam constantemente colocados no mesmo patamar, zelo e ciúme são sentimentos bastante diferentes.
"O primeiro é altruísta, pois se sustenta no cuidado e preocupação com o outro. O segundo tem um fundo egoísta, já que vem do medo de perdermos o valor que temos para alguém", comenta Santos.
Por isso, melhor do que buscar alguma desculpa é seguir o conselho dos especialistas: atentar à medida e cuidar do problema, logo no início, impedindo que ele se torne maior.
"As pessoas gostam de sentir que o outro se importa com o relacionamento, mas tudo tem limite", pondera a psicoterapeuta Mara Pusch, consultora de comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Desconfiar do parceiro e testá-lo em qualquer oportunidade, portanto, são sinais de desequilíbrio, o que pode envenenar e destruir a relação.
Erro de foco
É claro que algumas pessoas colaboram para as crises de ciúme de seus parceiros, seja pela beleza, carisma ou pela forma como lidam com os relacionamentos anteriores. É importante ressaltar, entretanto, que nem sempre a origem do problema está no outro. "Geralmente, além de não confiar na pessoa amada, o ciumento tem baixa autoestima e não confia em si mesmo.
Assim, não acredita que possa ser amado e vive na iminência de perder o afeto do outro", conta a professora da Unifesp. O inverso também acontece. "Algumas pessoas são tão egocêntricas que desejam ser sempre o alvo das atenções. Então, tornam-se possessivas, controlando qualquer atitude que possa ofuscá-las", afirma o psiquiatra Santos.
Olhar para si mesmo e perceber tais caracte- rísticas faz que muita gente prefira engolir a seco seu ciúme a expor suas fragilidades emocionais. Puro orgulho. E é melhor ficar esperto, pois essa pode ser uma armadilha.
Quem sufoca por muito tempo aquilo que sente, acaba sobrecarregando o psicológico e pode sofrer uma verdadeira explosão de sentimentos, que vem assim, de repente. Sabe aquela história de estar tão saturado que uma simples palavra - daquelas que, se dita em outro momento, passaria despercebida - pode ser a gota d'água? Melhor não pagar para ver o resultado.
"O ideal é que haja espaço no relacionamento para falar sobre o ciúme, expor o que desagrada, procurar soluções e mais segurança com a ajuda do companheiro", diz Santos. E se ainda assim a situação estiver complicada, a ajuda de um especialista pode ser funda- mental para levantar as razões que levam a tanta insegurança e as melhores formas de trabalhar isso.
Não sufoque aquilo que sente. O melhor caminho é a conversa
Lidando com a fera Não deixar que o ciúme atrapalhe a relação é uma tarefa complicada. Se você é ciumento, seguem algumas dicas: O primeiro passo é reconhecer que é ciumento e tentar entender os motivos que favorecem esse comportamento. |
Orgulho, orgulho meu
Muita gente julga mal e até sufoca esse sentimento, como uma forma de andar na linha. No entanto, para levar a vida com alegria, é preciso temperá-la com uma dose dele
por Patrícia Affonso
O orgulho nos preenche de felicidade quando realizamos algo significativo |
Algumas pessoas comparam a própria vida com uma espécie de aventura – um misto de altos e baixos sempre acompanhados dos mais diversos desafios. Para seguir em frente e alcançar o que se deseja é preciso jogo de cintura e controle emocional. Quem já passou por situações difíceis, garante: a sensação de dever cumprido é indescritível. E é exatamente nesse cenário de vitória que figura uma emoção muito conhecida dos seres humanos: o orgulho.
Às vezes, visto com maus olhos pelas pessoas (que constantemente o relacionam a personalidades fortes), ele também tem sua importância e, se administrado com cautela, desempenha muito bem o papel de bom-moço. “É o orgulho quem nos preenche de contentamento quando realizamos algo significativo”, explica o professor universitário João Garção, do departamento de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP).
A sensação é o reconhecimento do esforço e ser reconhecido é um passo importante para a felicidade. Afinal, quem é que não gosta de receber elogios e ser recompensado por uma atitude bacana? “Todos nós necessitamos de afeto e aprovação, por isso, nos faz bem sentir que alguém se orgulha da gente”, pondera o professor universitário Antônio Carlos Amador Pereira, que leciona Psicologia do Desenvolvimento na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP).
A atuação mais importante do orgulho, no entanto, não diz respeito à opinião alheia. Ao criarmos consciência da nossa habilidade de reação diante das adversidades, alimentamos um aliado importante: o amor-próprio. É ele quem mantém nossa cabeça erguida e ajuda a mobilizar forças para não desistirmos e virarmos o jogo quando as coisas se complicam. “Um pouco de orgulho facilita a formação de um conceito positivo de si mesmo”, completa Garção. Está aí um estímulo que faz toda a diferença. Quem se sente útil e capaz, graças aos êxitos das experiências passadas, não olha o futuro com tanto receio. Pelo contrário, segue em direção a ele mais confiante e ambicioso por novas conquistas. E, assim, surgem outras oportunidades de aprendizado e superação.
O perigo do excesso
Diante de tudo isso, fica evidente a necessidade de valorizarmos nossas virtudes e conquistas, mas mesmo nessa tarefa a palavra de ordem é equilíbrio. O motivo é simples: tem gente que acaba pegando tanto gosto pela coisa que passa a se vangloriar diante de tudo e de todos, esperando aplausos até mesmo para a mais simples das atitudes. Um erro de mão dupla: sem perceber, essa pessoa dá início a uma verdadeira batalha para se sobressair, a todo custo.
Quer ser perfeita e impecável – o que é humanamente impossível. Quem assiste, começa a achar uma chatice tanta arrogância e prepotência. Ou pior, acaba se afastando, pois se sente constantemente desmerecido por aquele sujeito todo cheio de si. “Essa é a face negativa do orgulho, que muitos chamam de vaidade ou soberba”, sinaliza Garção.
Para não pecar pelo exagero, é importante olhar para dentro, se conhecer bem, mas sem perder de vista o papel, muitas vezes essencial, daqueles que nos cercam. “Precisamos dosar com cuidado o interesse que disponibilizamos para nós mesmos e para as outras pessoas”, opina Pereira.
Fraco, eu?
Se você conhece alguém que se julga melhor em tudo, nunca reconhece o sucesso do outro e jamais admite um erro, saiba que toda essa pose de superioridade pode ser apenas uma máscara. “Pessoas muito inseguras acreditam que reconhecer uma falha, buscar ajuda ou pedir desculpas são atitudes que demonstram fraqueza e as coloca em desvantagem em relação ao outro”, exemplifica Garção. Para disfarçar esse medo, adotam uma postura extremamente orgulhosa, colocando-se um patamar acima dos demais.
O orgulho nos deixa mais confiantes para novas conquistas
É claro que a tentativa é frustrada. Além de conquistar a antipatia daqueles que o cercam, o indivíduo desperdiça oportunidades valiosas de aprendizado e convivência. Por isso, não perca de vista o seguinte conceito: humildade não tem nada a ver com fraqueza ou incapacidade. “O melhor caminho é conhecer bem a si mesmo e ser sincero quanto às próprias limitações ou deslizes. Dessa forma, fica mais fácil transformar os pontos negativos em potenciais produtivos”, completa o professor do Mackenzie.
Cada pessoa tem uma vocação, por isso, não se chateie por ter de pedir uma mãozinha, vez ou outra. Isso faz parte da condição humana, que está em constante evolução. E já que a imperfeição é algo comum a todos, também não precisa se martirizar por admitir que falhou. Pedir desculpas e mostrar interesse em consertar o estrago, seja qual for, já melhora (e muito!) as coisas.
Práticas poderosas
Algumas atitudes nos ajudam a estabelecer uma relação saudável com o orgulho. Confira sugestões para praticar no dia a dia
Tenha sempre em mente novos planos e objetivos. Dessa forma, você não corre o risco de se acomodar diante de uma vitória.
A gente só consegue transformar aquilo que conhece bem, por isso, não sufoque suas limitações nem tampouco feche os olhos para elas.
Diante do erro, nada de pessimismo ou sentimento de inferioridade. Demonstre atitude e você vai ver como as possibilidades de fazer melhor se abrem diante de você.
Preste atenção na trajetória e comemore as conquistas das pessoas que ama. Isso gera gratidão, felicidade e estimula uma corrente positiva.
Não se esqueça das pessoas que participaram, direta ou indiretamente, do seu sucesso. Quando possível, estenda a mão e ajude-as a conquistar um sonho também. O mundo dá muitas voltas e a gente nunca sabe quando vai precisar de apoio novamente. Por isso, é bom manter as portas abertas.
Tente outra vez!
Pensar na falha como o fim da linha é uma atitude pra lá de conformista. O fracasso pode ser um grande mestre que aponta o melhor caminho para o tão desejado sucesso
Por Patrícia Affonso
Não deixe o barco afundar de vez. O fracasso é útil para o processo de crescimento |
Quando se fala em fracasso, muita gente se arrepia. Alguns até batem três vezes na madeira para espantar esse mau resultado. Atualmente, é assim que o insucesso aparece: como um verdadeiro tabu. Ninguém quer se deparar com ele, como se fosse algo terrível e vergonhoso de se assumir. Mas um dia a falha surge e é melhor se conformar com isso.
Para começo de conversa, o fracasso faz parte da realidade de todos. E já que essa certeza existe, o confronto com a falha deveria ser tranquilo. Mas não é tão simples assim. Receber a visita do fracasso, entender os motivos que o trouxeram e lidar com ele de maneira inteligente e proveitosa requer reflexão, força de vontade e uma autoestima bem estruturada.
Um dos segredos para desenvolver uma relação mais amistosa com o insucesso é reconhecer seu papel: o de não carrasco (apenas). Na busca pelo acerto, ele pode ser um intermediário importante, munido de informações preciosas. "O fracasso traz bagagem e experiência para que possamos encontrar outro meio de alcançar nosso objetivo", afirma a psicóloga Rejane Sbrissa, de São Paulo. Ou seja, as pessoas que aprendem com os erros estão muito mais aptas a acertar dali para frente.
E por falar em acertos, já percebeu como eles rapidamente são esquecidos? Em contrapartida, os erros demoram uma eternidade para saírem da memória. E a explicação é simples: a supervalorização da falha deixa as pessoas tão deprimidas que, dificilmente, conseguem dar uma pausa nas lamentações.
"Quando você falha em uma determinada circunstância, não deve generalizar e considerar que fracassou como pessoa", pondera o psicoterapeuta Antonio Carlos Amador Pereira, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Afinal, é possível fazer diferente, mudar o comportamento, o plano de ação, ir por outro caminho. E isso não significa mudar quem você é.
Por isso, na ausência do êxito, nada de baixar a cabeça e achar que é o fim da linha. Se estiver amedrontado demais para olhar ao seu redor, olhe para dentro. "Esse é o momento de juntar experiência e habilidades para re-escrever a história", opina a psicóloga Sâmara Jorge, de São Paulo. Acredite: elas ajudarão você a agir com mais consciência, revelando o seu melhor.
O fracasso é uma ferramenta importante na busca pelo acerto
PARE DE SE CULPAR
Outro fator importante (que ameniza um pouco o gosto amargo do fracasso) é entender que nem tudo depende de você para dar certo. Muitas vezes, é necessária a aprovação do outro para obter o sucesso, seja na carreira ou nas relações ao longo da vida. E aí entra a incerteza. Não dá para prever a avaliação de alguém sobre o seu desempenho. O que resta é buscar sempre o aprimoramento e dar o melhor de si para cada situação. Assim, elimina-se a dolorosa ideia de que as coisas poderiam ser diferentes se houvesse mais esforço.
Atualmente, os resultados são mais valorizados do que o caminho percorrido para se chegar a eles. Levar isso muito a sério é travar uma luta incessante pelo acerto e o reconhecimento - que cedo ou tarde trazem desgaste e frustrações. "Se algo não saiu bem agora, use-o como ferramenta para evitar erros futuros", alerta Rejane. Aprenda a comparar as situações se lembrando dos resultados que obteve em outras oportunidades.
PÉ NO BREQUE
Ninguém está livre das expectativas e isso é muito bom. O problema só aparece quando se perde a noção do que é possível ou não. "Quem idealiza uma situação de plenitude e acha que pode alcançar todos os seus objetivos viverá constantemente a sensação de ter fracassado, pois essa não é uma possibilidade real", comenta Sâmara. Além de depender de outros fatores e pessoas em certas circunstâncias, há também a questão de que todos têm limitações.
Às vezes, sem querer, se perde a capacidade de reconhecer a aptidão para desenvolver uma tarefa (que foge das próprias habilidades). Então, o fracasso vem e, à sua maneira, auxilia a redimensionar até onde se pode ir. "Nesse caso, é preciso refletir para retomar o conhecimento das nossas verdadeiras qualificações" esclarece Sâmara. Assim, não há sentimento de impotência e nem a vontade de desistir, mas o processo de escolha de um novo caminho para trilhar.
Antena ligada! Depois de se deparar com uma situação de fracasso, é importante refletir para entender o que houve. Há duas possibilidades. A primeira é perceber que aquele objetivo realmente não está ao seu alcance e traçar outras metas. A outra é encontrar pontos falhos em sua forma de agir e, com paciência e organização, bolar uma nova estratégia para recomeçar. Ambas trarão percepções e aprendizados importantes para se aplicar nas próximas experiências. "Quando empresários constroem um plano de vendas, a primeira coisa que examinam é como outras empresas foram bem-sucedidas e como falharam. Assim, conseguem muitas indicações sobre o que dá certo e o que não funciona. O fracasso, assim como o sucesso alheio, é também informação", salienta Antônio Carlos. |
Ser melhor em algumas coisas do que em outras é natural. Perfeitos e infalíveis em tudo, só mesmo os heróis da ficção. Mas cá entre nós, com a ajuda de superpoderes, tudo fica muito mais fácil. É por isso que as pessoas se emocionam e dão tanto valor aos heróis de verdade, gente de carne e osso, que passa por uma porção de dificuldades, mas encontra dentro de si a força para levantar, ir à luta e vencer. Muitos dos grandes nomes da história (aclamados por gerações) viveram inúmeros fracassos e só depois conseguiram virar o jogo. As adversidades deram ainda mais graça ao desfecho vitorioso. Portanto, se as coisas se complicarem, mantenha a cabeça erguida e tente outra vez.
Ai, que raiva!
Parece difícil, mas com um pouquinho de reflexão, treino e equilíbrio é possível domar sua fera interior e usá-la como aliada para melhorar suas relações
por Patrícia Affonso
Raiva: você já deve tê-la sentido. A maioria das pessoas prefere fazer vista grossa, fingir que nunca se deparou com ela, mas, na realidade, quando menos se espera, a calmaria cotidiana é interrompida por um incômodo que começa manso e aos poucos ganha espaço, fazendo um verdadeiro alarde interior.
Alguns se exaltam, sentem o sangue ferver e o coração bater forte e acelerado, como se fosse escapar de dentro do peito. Outros reagem de forma mais pacífica e antes que as palavras ganhem vida própria e saiam em defesa, preferem engoli-las a seco e permanecer com a inconveniente sensação de nó na garganta. Pois é, seja qual for o motivo é difícil prever ou ensaiar como responder à raiva, emoção tão conhecida e ao mesmo tempo evitada pelos seres humanos. "Principalmente devido à influência religiosa, nossa sociedade tachou alguns sentimentos como feios e impróprios. Por isso, muitas pessoas têm vergonha de assumirem que sentem raiva, aliás, um erro, pois é uma emoção natural à condição humana", afirma a psicóloga clínica Dora Lorch, de São Paulo.
Tudo o que se sente, seja bom ou ruim, tem um propósito na vida e está em contato com aspectos importantes de si mesmo. Com a raiva é igual. Por isso, melhor do que ignorá-la ou extravasá-la com uma intensidade devastadora é, antes de tudo, entender seus motivos. Só assim é possível criar uma estratégia para acalmar a fera que existe dentro de você e caminhar rumo a uma vida mais serena.
Saber o motivo da fúria é importante para poder domá-la
As causas da tempestade
Cada pessoa é um universo diferente, com gostos, normas e restrições particulares. Por isso, não dá para generalizar os motivos que provocam a ira. Sabe-se que ela funciona como uma espécie de alerta - um sistema de defesa mediante a algo que rompe as barreiras de preservação, sejam morais, emocionais ou físicas.
E aí entram uma infinidade de razões, tais como aquela injustiça cometida pelo chefe, o comportamento invasivo da sogra, o descaso do namorado... Junto com o desconforto vem também a cobrança: quais mudanças serão feitas dali para frente, a fim de solucionar o problema? E é exatamente essa a principal origem do medo de se confrontar com tal emoção. Tem-se a raiva porque, muitas vezes, ela implica em rompimentos, mostrando que determinadas situações são intoleráveis.
Daí a necessidade de mudar de postura, negociar a mudança do comportamento de alguém ou ainda, quando essas alternativas não forem eficazes, finalizar a relação. "Além disso, há a frustração, pois a raiva frequentemente aparece quando nossa expectativa sobre algo não se cumpre", comenta o psicólogo Nichan Dichtcekenian, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
As duas faces da moeda
Ainda que a sensação de raiva não seja das melhores experiências que alguém pode desfrutar, ela não deve ser vista como totalmente negativa. Afinal, se por um lado enraivecer-se causa sofrimento, por outro promove o descontentamento - um passo determinante na busca de soluções. "Mais do que um mecanismo de defesa, a raiva é uma ferramenta de transformação daquilo que nos desagrada. Ela nos abastece de energia para nos movermos na direção certa", opina Dora.
E para aproveitar esse lado criativo do sentimento é preciso saber domá-lo, dosar sua proporção. Sair por aí esbravejando nunca ajudou ninguém. "É preciso lembrar que quando agimos com agressividade, consequências virão", diz Dichtcekenian.
Sufocar o sentimento e guardá-lo para si também não é boa saída. "Causa mal-estar emocional e, a longo prazo, até físico [veja o box]. Além disso, tem o efeito de uma bomba-relógio. Você vai guardando, guardando e quando percebe estourou diante de um motivo pequeno, pouco merecedor de tanto estresse", completa o psicólogo.
Portanto, lição número um: jamais agir por impulso, movido pelo calor das emoções. O efeito pode ser catastrófico. "Quando estamos nervosos, a tendência é falar mais do que gostaríamos e tentar impor nossa opinião, a qualquer custo.
O corpo sente Confira algumas das principais reações físicas quando se sente raiva Ttaquicardia: o coração começa a bater mais rápido e forte, para mandar sangue a todas as partes do corpo. Fonte: Geraldo Possendoro, psiquiatra, psicoterapeuta e professor de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) |
Você sabe controlar a sua raiva? Responda as perguntas abaixo e descubra se, diante de uma crise de nervos, você perde o controle sobre suas emoções 1. Em uma fechada no trânsito, você... 2. Como você reage (ou reagiria) a cantadas do chefe? 3. Você está contando para uma pessoa sobre um acontecimento importante, porém, no meio da conversa, se dá conta de que ela não está prestando atenção. Então... 4. Você está tentando assistir TV, mas alguém da casa, como de costume, ligou o som no último volume. O que faz? 5. Você e um grupo de amigos alugaram uma casa na praia. Todos são muito animados e prestativos, exceto uma pessoa que, além de reclamar dos programas propostos, não ajuda em nenhuma das tarefas da casa. Você tenta resolver... CONFIRA O RESULTADO EQUIVALENTE ÀS RESPOSTAS
Saber se conter, em determinadas situações, é muito bom. Porém, quando esse comportamento é corriqueiro, o melhor mesmo é se expressar. Fique atento: comece, aos pouquinhos, a dar sua opinião sobre os assuntos que o cercam. Logo, você notará os reflexos positivos sobre sua autoestima e segurança.
Você não fecha os olhos para o que acontece à sua volta. Mas nem por isso precisa mostrar as garras diante de tudo o que o desagrada. Afinal, já percebeu que com equilíbrio e diplomacia fica mais fácil convencer as pessoas e chegar a um resultado satisfatório.
Você é do tipo de pessoa que vivencia todos os sentimentos com muita intensidade. Por isso, quando é tomado pela raiva, não hesita em bater boca. No fundo, percebe que fala mais do que deveria, faz tempestade em um copo d´água e, no final, não chega a lugar algum. Que tal refletir um pouco mais antes de se estressar tanto? |
Assim, fica difícil estabelecer um acordo. Se puder, caminhe um pouco, se afaste do alvo da ira. Quando estiver mais calmo, tudo parecerá mais simples", propõe Dora.
O segundo passo é admitir a raiva e refletir sobre seus motivos. É importante que, antes de tomar partido, você tenha certeza sobre a autenticidade do sentimento. Depois, é a hora de expor o que pensa ao outro, sem imposições, mas com argumentos. Nem sempre a resposta virá como se espera, mas sem dúvida estará se livrando de um peso grande demais para carregar sozinho. "O diálogo pode ter resultados positivos ou não, mas somente o fato de ter aceitado e entendido o incômodo deixa a pessoa mais calma, confortável e segura", finaliza Dichtcekenian.