Todo verão, os campos da Provença, no Sul da França, formam a aquarela de cores que inspirou tantos artistas.
Parecem jardins, mas são plantações - assim com o trigo maduro, dourado, e a lavanda, o tom de lilás que leva o nome desta flor. Plantada em fileiras, a lavanda, que é também chamada de alfazema, sob o sol intenso, libera seu perfume.
No verão da Provença não precisa nem estar no meio do campo para sentir o perfume que se espalha por toda a região. A França é a maior produtora de lavanda no mundo. Mas essa planta que cresce naturalmente na montanha só começou a ser cultivada há 200 anos, quando a indústria do perfume descobriu o potencial desse óleo da lavanda que os romanos já usavam para se lavar. Daí o nome: lavanda.
Antigamente só as abadias e conventos dominavam a técnica de extração do perfume da lavanda. Hoje a França produz 80% da lavanda usada no mundo. É a essência mais usada pelas fábricas de cosméticos.
Na família Coutilliard, um pilota a colheitadeira, que vai limpando as fileiras, trocando o lilás pelo verde. Os outros esperam na caçamba: vão ajeitando a carga perfumada até ficar lotado. Na fazenda, o perfume é extraído da caçamba mesmo, com um jato de vapor, que passa pelas flores. Em poucos minutos, o óleo brota no galão.
É muito perfumado. Bom não desperdiçar - afinal, um litro do óleo de lavanda custa o equivalente a R$ 500. Pela região, pequenas destilarias extraem o óleo e fabricam sabonetes, cremes, perfumes, uma imensa linha de produtos que é o souvenir preferidos dos turistas.
Lá fora a uva ainda está verde nas vinhas centenárias, mas as vinícolas se preparam para começar logo a produção do rose, o vinho preferido do verão provençal.
Charlotte Lae mostra os novos equipamentos, com a tecnologia que permitiu ao rosé alcançar o status de vinho nobre. Seu consumo cresce 30% ao ano. O verdadeiro rosé é fermentado com a mistura de uvas, nunca feito da mistura de vinhos prontos.
Seguimos para uma das mais belas vilas da França: Roussillon brotou das pedras no alto da colina, por causa de sua cor, o ocre. Na encosta da colina, uma mina de ocre, uma argila que é o pigmento mais antigo usado pela humanidade, junto com o carvão, para pintar paredes de cavernas.
A mina foi abandonada antes da Segunda Guerra Mundial, deixando para trás os barrancos esculpidos pela exploração, polidos pela chuva e o vento. A cor natural cria pinturas abstratas, de terra e sombra. O ocre era exportado para o mundo todo, até ser substituído pela tinta artificial.
A antiga usina agora é um conservatório da cor. O diretor mostra a diferença de tons: o amarelo é o ocre cru. Depois de queimado nos fornos, fica vermelho, intenso.
“O ocre é vermelho, vermelho é a cor do sangue e, sendo a cor da vida, pode ser também a cor da morte”, diz o diretor, para explicar a força dessa cor através dos tempos. Nos subterrâneos de Rousillon, uma mina com galerias altas como catedrais.
Lá fora ta um calor de 35º C. Cem metros para dentro da mina, faz 11º C e é úmido. Faz muito frio.
Em continente cinzento e frio, as cores e sol da Provença ganham uma adoração quase sagrada.