Segundo a endocrinologista Carlinês Sarno de Moraes, da USP, a testosterona auxilia na formação muscular, enquanto o estrogênio é um hormônio que facilita o depósito de gordura.
Uma semana depois de começarem o programa de educação alimentar do CRNUTRI da USP, os pacientes revelam a dificuldade de fazerem a dieta.
“Está difícil fazer regime, porque não é fácil emagrecer. Mas vamos à luta”, afirma a empregada doméstica Meiriane Aparecida da Silva. “Eu não gosto de tomar café com adoçante. Eu gosto é de tomar com açúcar. Por isso, mesmo eu não vou mais tomar café, vou partir pro suco de laranja”, revela o zelador Luis Dias Ribeiro.
“Eu sempre gostei de fazer o meu regime, mas agora é diferente. Estou pegando mais gosto por causa da minha saúde. A minha saúde é mais importante do que um copo de refrigerante, do que um pão na chapa”, declara a cabeleireira Edna Ferreira de Souza.
Os pacientes chegam ao centro de referência e estão bem animados. Uma semana depois de iniciada a educação alimentar, voltamos ao CRNUTRI, na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). A consulta é minuciosa, quase uma investigação. Você tem que lembrar tudo o que se comeu na véspera, por exemplo. É uma forma de manter o controle.
A nutricionista Viviane Laudelino Vieira, do CRNUTRI, pergunta ao repórter Alberto Gaspar o que ele comeu no dia anterior no café da manhã. Ele responde: “laranjada, café e duas torradas de pão integral com iogurte light. Parece que eu estou ouvindo outra pessoa falar, não parece que sou eu”.
O zelador Luis Dias Ribeiro revela que agora o pão integral faz parte da sua refeição: “ele só é diferente na cor, é uma massa mais escura. Mas o gosto é o mesmo”. A nutricionista, então, explica a diferença entre os dois pães: “comendo o integral, você vai se sentir mais satisfeito com menos quantidade”.
A cabeleireira Edna Ferreira de Souza não jantou no dia anterior e só comeu um pão e tomou um copo de leite. “Não é legal. Tem que fazer uma refeição mais completa. Café da manhã, almoço e jantar são as três refeições principais”, aponta a nutricionista Adriana Passanha, da USP.
E os resultados vão aparecendo. Luis emagreceu 2,1 kg e perdeu quatro centímetros de cintura. Edna emagreceu 1,6 kg. Na cintura, ficou com menos seis centímetros. O peso de Meiriane baixou em 1,2 kg. Na fita métrica, ela teve redução de dois centímetros.
O repórter Alberto Gaspar diminuiu pouco a cintura, só meio centímetro, mas, em compensação, perdeu 2,7 kg, em uma semana.
Mas há uma má notícia para as mulheres. Os homens levam vantagem na hora de emagrecer. “A testosterona é um hormônio muito importante para a formação muscular, enquanto o estrogênio é um hormônio que facilita o depósito de gordura. Então, realmente, as mulheres têm uma conformação diferente, em termos de depósito de gordura, e os homens têm maior facilidade e rapidez na perda de peso”, explica a endocrinologista Carlinês Sarno de Moraes, da USP.
Outro fator que nos faz diferentes e que devemos considerar é a herança genética de cada um. “Nós não podemos interferir na genética, mas podemos mudar hábitos e, consequentemente, melhorar a situação do paciente diante da obesidade, reduzindo todas essas complicações”, aponta a Dra. Carlinês Sarno de Moraes.
E são tantas complicações, como o diabetes e a hipertensão. As últimas pesquisas mostram até que, quem emagrece com uma dieta saudável, pode se livrar de cânceres de esôfago, estômago, intestino, rins e leucemia.
“Os pesquisadores afirmam que as células gordurosas conteriam hormônios estimuladores da proliferação celular. Com a maior proliferação celular, teríamos maior probabilidade de que alguma multiplicação acontecesse defeituosa, transformando essa célula benigna numa célula maligna”, diz a endocrinologista Carlinês Sarno de Moraes. “Um controle de peso conseguiria reduzir a frequência ou o aparecimento dos cânceres”.
Esta é mais uma razão para seguirmos em frente. Vamos continuar então com mais algumas das 14 metas recomendadas pela equipe do CRNUTRI para quem quer fazer uma educação alimentar, emagrecer com saúde e para sempre.
Meta número 6: moderar nos açúcares e nos doces, comer, no máximo, um doce por dia. E cuidado com os cafezinhos. Três xicrinhas com açúcar valem por um doce.
Meta número 7: diminuir o sal e os alimentos ricos em sódio.
A oitava meta é consumir três porções diárias de leite ou derivados, porque o nosso corpo necessita.
A meta número 9: consumir pelo menos uma porção de cereal integral por dia.
“Quanto mais você conseguir fazer essas opções, invés de comer o refinado, como a farinha branca, quanto mais acrescentar o integral, é melhor, porque você consegue controlar melhor o açúcar do seu sangue, diminuir o colesterol e os triglicérides”, diz a nutricionista Viviane Laudelino Vieira, do CRNUTRI, da USP.
Algumas metas podem parecer bem chatinhas, mas, adotando esses hábitos, aos poucos, nos acostumamos. E, cá entre nós, não há outro jeito.
“A gente precisa de limites, porque que a gente cresce e acha que não pode mais tê-los? A gente tem. A gente não tem horário para entrar e sair de trabalho, para estudar? A gente precisa também de limites para se alimentar, para dormir, para fazer atividade”, explica a psicóloga Adriana Cezaretto, da USP.
A décima meta é até gostosa, a consagração de um hábito bem brasileiro. Devemos comer, por dia, uma concha de feijão ou de outra leguminosa, como lentilha, ervilha, grão de bico.
Meta número 11: reduzir o álcool. As mulheres só devem tomar uma dose. Os homens, duas. E não mais do que duas vezes por semana.
O décimo segundo objetivo é beber, no mínimo, dois litros de água por dia.