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segunda-feira, 15 de março de 2010

Suplementação: aliada ou vilã?


Na ânsia de alcançar um corpo bonito, muitas mulheres recorrem aos suplementos alimentares. Cheios de promessas tentadoras, esses produtos são vendidos livremente em lojas especializadas, sem a exigência de receita médica ou acompanhamento. Mas nem tudo é tão simples quanto parece. Mal administrados, eles oferecem sérios riscos à saúde

Patrícia Afonso
fotos: shutterstock

Todos os meses as academias ganham uma porção de novas alunas, determinadas a preparar o corpo para vestir o biquíni da moda ou exibir as curvas no jeans skinny. O desejo de ver logo no espelho o resultado da malhação e cumprir o objetivo no menor prazo possível é o ponto de partida para que muitas comecem a se interessar pelos suplementos alimentares. "No geral, elas já chegam à academia querendo tomar algo para acelerar o resultado. A ansiedade de emagrecer é tanta, que elas sentem e agem como se não pudessem esperar. Acontece que nessa hora ninguém se lembra que não foi da noite para o dia que engordou", comenta Alessandra Caviglia, gerente de nutrição das unidades Brooklin e Morumbi da academia Cia. Athletica (SP).

Se tal interesse as direciona até a sala do nutricionista ou ao consultório médico, tudo bem. O problema é quando os comentários empolgados de uma colega ou uma sugestão do instrutor bastam para que elas se dirijam à primeira loja especializada e saiam de lá com um combinado de produtos que, na realidade, nem conhecem direito. "A observação do uso indiscriminado desses suplementos motivou a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) a propor que se incluísse no rótulo a informação 'alimento para atletas', na tentativa de limitar o público-alvo. No entanto, ainda não há nenhuma definição sobre o assunto", afirma Murilo Dáttilo, nutricionista do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo o especialista, existem vários suplementos que podem ajudar quem pratica atividade física, mesmo sem ser atleta profissional.

O erro está na autoindicação e no hábito que algumas pessoas têm de utilizar o suplemento como substituto da refeição. "A alimentação equilibrada ainda é a melhor forma de manter o corpo em dia. Afinal, é da dieta que vem a maior parte dos nutrientes que necessitamos. A suplementação só serve para ajustes, não faz milagres", diz. Ao contrário do que prega o senso comum, de que seguir as instruções do rótulo é o suficiente, as características individuais devem ser consideradas e fazem toda a diferença. "A quantidade de suplemento necessária varia de acordo com o peso, a dieta e a rotina de exercícios da pessoa", alerta Alessandra. Conheça a seguir os principais tipos de suplementos disponíveis no mercado e suas funções. Mas atenção: nada de escolher o seu sem a orientação certa, para não colocar a saúde em risco em nome da vaidade.

aminoácido
Sua matéria-prima é proteína e, por isso, tem um papel importante na manutenção da massa magra. "O aminoácido atua na reparação da musculatura e em seu conseguinte desenvolvimento", explica Murilo Dáttilo. É recomendado para atletas que treinam intensamente e, por isso, necessitam de uma reposição rápida de proteínas. "Esse suplemento deve ser utilizado com cautela por indivíduos com problemas intestinais, hepáticos e renais", completa o especialista.

glutamina
Tipo de aminoácido existente na musculatura. Sua utilização no pós-treino auxilia a diminuição do estresse muscular, preparando o corpo para o próximo treinamento. Além disso, favorece o sistema imunológico.

termogênicos e queimadores de gordura
Esses produtos são vendidos sob o apelo de acelerar o metabolismo e são muito procurados pelas mulheres. No entanto, boa parte deles não possui evidências científicas que comprovem seus efeitos. "Vale ressaltar que alguns desses suplementos, que contêm cafeína, podem ajudar na mobilização da gordura e favorecer o rendimento físico. Porém, é preciso a liberação e o acompanhamento de um médico para não gerar efeitos adversos para a saúde, como taquicardia e insônia, dentre outros males", comenta Murilo Dátillo, nutricionista da Unifesp. Repetimos: antes de tomar, busque orientação.

BCAA
É um mix dos principais aminoácidos requeridos pela musculatura durante a atividade física. "Esse produto é indicado para quem treina pesado e precisa estar inteiro no dia seguinte, pois ajuda na recuperação da musculatura. Além disso, aumenta a capacidade de ganho de massa muscular", comenta Alessandra.

"É da dieta que vem a maior parte dos nutrientes que necessitamos. A suplementação, sozinha, não faz milagres." Murilo Dáttilo, nutricionista




Patrícia Afonso

fotos: shutterstock

óxido nítrico
Esse produto é indicado para acelerar o ganho de massa muscular. Isso se deve principalmente ao fato de que ele aumenta a velocidade de contração da fibra muscular durante o treino e, assim, gera um maior potencial de força. Também ajuda na recuperação da fadiga muscular, comum no pós-treino. Não deve ser utilizado por períodos longos.

creatina
Esse nutriente é um tipo de proteína encontrado em alguns alimentos de origem animal, especialmente na carne vermelha. Para compor suplementos, a substância é retirada de carnes e fígado de boi e misturada a outros componentes. "A creatina confere mais força e energia, melhorando o rendimento do treino. Além disso, diminui o tempo de recuperação dos músculos, possibilitando que se mantenham e até se aumentem as cargas utilizadas", diz Alessandra. Esse suplemento exige um acompanhamento mais minucioso. "Muitas pessoas procuram a creatina porque ela ajuda a inflar, dando uma sensação de aumento muscular. O problema é que se trata de uma impressão falsa, já que ela cria uma reserva de água dentro das células e, por isso, a pessoa incha. Não é músculo de verdade. É preciso fazer algumas pausas na suplementação", pondera.

hiperproteicos
"São derivados de proteínas do leite, soja ou ovo. Reparam a musculatura e auxiliam o seu desenvolvimento", diz Murilo Dáttilo. Podem favorecer praticantes de atividade física com intensidade em diversos níveis, mas devem ser utilizados com cautela para não sobrecarregar a função hepática. Um dos mais conhecidos é o WheyProtein.

estimulantes
À base de substâncias como cafeína e guaraná, esses produtos aceleram a função metabólica e estimulam o sistema nervoso central. Conferem maior disposição para o treinamento, além de melhorar o humor. O uso inadequado pode causar dependência psicológica, além de problemas como o aumento da pressão arterial, agitação, distúrbios do sono e falhas na coordenação motora.

ácido linoleico (CA, LA, CL)
Suplementos à base de óleo de cártamo que visam a diminuir os níveis de gordura corporal e o ganho de massa magra. "As pesquisas com ratos apontaram alterações positivas na composição corporal, porém, os estudos ainda são inconclusivos. Não indico o uso desse tipo de produto, pois pode favorecer distúrbios do trato gastrointestinal, diabetes do tipo 2, inflamação e risco aumentado para doenças cardiovasculares", alerta Murilo Dáttilo.

precursores do hGH
Combinam aminoácidos que promovem o aumento do hormônio GH, responsável pelo crescimento, e o aumento da musculatura. "O uso de qualquer produto que tenha relação com a parte hormonal precisa ser orientado por um médico. Aqui, a grande questão é que o hGH não escolhe que célula vai multiplicar. Isso pode ser perigoso, pois pode, por exemplo, atuar no crescimento de células cancerígenas. Se a pessoa tiver parentes que já sofreram de câncer, não deve nem pensar em usar", enfatiza a nutricionista da Cia Athletica.

não corra o risco

Quando se trata de suplementação alimentar, uma simples consulta ao especialista faz toda a diferença. É ele quem poderá avaliar seu quadro físico e recomendar os produtos mais indicados para o objetivo que deseja alcançar. Além disso, a orientação evita a compra de produtos de origem duvidosa - que infelizmente são vendidos livremente por aí - e ajusta as porções às demandas do seu organismo. "O uso inadequado dos suplementos afeta o metabolismo, sobrecarregando órgãos como fígado, rins, pulmões e pode até mesmo causar câncer. Há ainda maior risco de tromboembolismo, devido ao aumento no tempo de coagulação sanguínea, e de doenças cardiovasculares", destaca Rizzieri de Moura Gomes, médico cardiologista do grupo Angiocardio (SP). Portanto, vá com calma! O desejo de apressar demais as coisas, nesse caso, pode trazer prejuízos irreversíveis.