Também chamada de blueberry, a fruta possui substâncias com poder medicinal, tem mercado crescente e ainda é pouco cultivada no Brasil
Texto João Mathias
Consultor: Rafael Pio*
Fruta relativamente desconhecida no país, o mirtilo (Vaccinium sp.) plantado na América do Sul vem ganhando cada vez mais espaço no mercado internacional, estimulado por suas características saudáveis. Produtores chilenos, argentinos e uruguaios são os que mais estão aproveitando a forte demanda na entressafra de países do Hemisfério Norte, principalmente dos Estados Unidos, e exportando para lá frutos frescos.
Os brasileiros ainda não exploram todo o potencial dessa fruta, que é menor que a uva e da cor da jabuticaba, mas com sabor único. Como as demais frutas vermelhas, o mirtilo é ótima matéria-prima para a elaboração caseira de geleias, sucos, doces em pasta ou cristalizados, tortas e bolos, além de ser utilizado na indústria de polpas, frutas congeladas, iogurtes e sorvetes.
De meados de outubro a metade de novembro é o período das melhores oportunidades de exportação de mirtilo, com valores que podem chegar a US$ 50 a embalagem de 2 quilos. Nos demais meses, o mercado internacional comprador paga de US$ 20 a US$ 24 pelo mesmo volume.
O interesse pelo mirtilo é promovido pelas grandes quantidades de vitaminas A e B que contém, substâncias que combatem os radicais livres, produzem ação anti-inflamatória, melhoram a circulação, reduzem o colesterol ruim e favorecem a saúde dos olhos. A fruta também é dotada de ácido elágico, substância que tem mostrado propriedades inibidoras contra a replicação do vírus HIV, transmissor da aids - síndrome da imunodeficiência adquirida, além de potente inibidor da indução química do câncer.
Falta de conhecimentos técnicos e pesquisas sobre adaptação das variedades restringem o cultivo de mirtilo a cerca de 150 hectares no país. Os gaúchos são os maiores produtores, com 150 toneladas obtidas em uma área de 40 hectares de plantio conduzida por 45 agricultores. As demais plantações encontram-se distribuídas pela região serrana de Santa Catarina, sul do Paraná e Serra da Mantiqueira, nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Pertencente à família Ericaceae, o mirtilo produzido no Brasil é originário da América do Norte. As variedades mais utilizadas por aqui são as pertencentes ao grupo highbush, de arbustos altos, com cerca de 1,5 metro de altura; e as do grupo rabitteye, arbustos ainda mais altos, medindo de 2 a 4 metros.
RAIO X | ||
SOLO: areno-argiloso, rico em matéria orgânica e levemente ácido CLIMA: temperado ÁREA MÍNIMA: em vasos de, pelo menos, 20 litros COLHEITA: dois anos após o plantio CUSTO: o preço de uma muda é de cerca de R$ 8 | ||
MÃOS À OBRA | ||
PLANTIO - os melhores solos para plantar mirtilo são os areno-argilosos, ricos em matéria orgânica e levemente ácidos. Para obter mudas, colete estacas do caule da planta. Em seguida, aqueça o substrato para haver maior enraizamento. Em torno de 70 dias, as estacas devem estar bem enraizadas, prontas para ser transferidas para sacolas plásticas com substrato rico em matéria orgânica. Somente depois de oito meses as mudas podem ser levadas para o campo. ESPAÇAMENTO - de porte arbustivo, a planta do mirtilo necessita de covas com dimensões de 40 x 40 x 40 centímetros, com aplicação de calcário e matéria orgânica. Deixe entre as plantas o espaçamento de 1 a 1,5 x 3 metros. AMBIENTE - o mirtilo se adapta às mais variadas condições climáticas, mas seu plantio vai bem principalmente em locais frios, com temperaturas baixas no inverno e amenas no verão. CUIDADOS - as principais doenças que atacam o mirtilo são causadas pelos fungos Botrytis, Colletotrichum e Aspergillus. Evite sua incidência fazendo o tratamento de inverno e pulverizações com produtos à base de cobre. Em períodos de umidade elevada, é indicado pulverizar a planta somente após a colheita dos frutos ou logo depois da floração. PRODUÇÃO - a primeira produção ocorre após dois anos do plantio e a colheita dos frutos deve ser feita manualmente. As frutas podem ser colhidas ao longo de 40 dias, entre os meses de dezembro e janeiro. Como o mirtilo é delicado e bastante perecível, cuidados devem ser redobrados para evitar danos durante a execução da colheita. |
*Rafael Pio é engenheiro agrônomo, professor e pesquisador da UFRP - Universidade Federal do Paraná, Rua dos Funcionários, 1540, Juvevê, CEP 80035-050, Curitiba, PR, tel. (41) 3350-5607, rafaelpio@hotmail.com
Onde comprar: Viveiro Frutopia, Campos do Jordão, SP, r.veraldi@terra.com.br, http://pequenasfrutas.blogspot.com/
Mais informações: Embrapa Clima Temperado, Rodovia BR-392, km 78, Caixa Postal 403, CEP 96001-970, Pelotas, RS, tel. (53) 3275-8100; e Portal Toda Fruta (www.todafruta.com.br), da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp - Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, SP