Por Shirley Santos Fotos: Caio Mello
Um peixe fora d’água. Era assim que a analista de laboratório se sentia aos 11 anos de idade. Afinal, foi nessa época que começou a ouvir a palavra “gorda”, ser constantemente pronunciada pelos amigos da escola. O jeito, então, era se esconder, principalmente de todas aquelas meninas magrinhas. Os dias passavam e, a cada ano, os incômodos com a má forma se acentuavam. Aos 14, já estava “mergulhada” em dietas malucas. “Comia três biscoitos de água e sal por dia ou então uma salsicha. Isso sem contar os longos períodos de jejum aos quais me submetia. Fazia tudo escondido para que ninguém da família percebesse. Quando interrogavam se já havia me alimentado, dizia sempre que sim. Até emagrecia alguns quilos (nunca o suficiente), mas depois a gula voltava à cena e os recuperava novamente”, conta Tatiane.
O cenário se manteve dos 15 aos 18 anos. A essa altura, além do desconforto das gordurinhas extras, ela sofreu, também, com a pressão do então namorado. “Ele me cobrava para emagrecer. Queria que eu fosse igual à linda e sexy “Feiticeira”, personagem que estava em alta na época (interpretada por Joana Prado). Me sentia culpada por não conseguir perder peso. Atribuía isso à minha falta de esforço”,
Sem saber o que fazer para reduzir os 69 kg que a balança marcava (no alto dos seus 1,63 m), não foi difícil resistir a uma proposta tentadora. “Uma amiga ofereceu algumas cápsulas ‘mágicas’ de emagrecimento. Tomei os 120 comprimidos do frasco e, em 40 dias, 14 quilos se foram! Fiquei feliz da vida com o ‘milagre’. Claro que o medicamento trouxe sensações desagradáveis: tremedeiras, taquicardia, mudanças bruscas de humor. Porém, não me importava. Queria ser magra!”, relembra
Luta árdua E o que era um simples desejo transformou-se em obstinação. Mais que isso: uma ameaça para a saúde de Tatiane. “O medicamento acabou e, após alguns meses, engordei tudo novamente. Desesperada, procurei a pessoa que havia me indicado para fornecer mais. Porém, ao tomá-las, percebi que o efeito já não era o mesmo. Passei, então, a ingerir duas cápsulas ao dia, em vez de uma. Essa perigosa decisão me levou à um estado de depressão.”
Somado a esse delicado quadro, os efeitos colaterais da fórmula atingiram seu ápice durante as aulas da faculdade. “De repente, meus braços ‘travaram’ e, em seguida, tive uma crise de choro. Fui conduzida ao pronto-socorro. Chegando lá, neguei – até o fim – que estivesse usando remédio para emagrecer. A verdade foi quase revelada quando – durante a consulta – minha mãe encontrou na bolsa a ‘prova do crime’. Rapidamente, me prontifiquei a dizer que se tratava de uma erva natural chamada cáscarasagrada. Não sei se acreditaram. O fato é que após essa experiência, disse adeus aos comprimidos.”
Após tal decisão, Tatiane teve de se tratar, por um ano, para se livrar dos efeitos do emagrecedor. A esperada retomada de peso, no entanto, aconteceu. Em 2005 ela subiu ao altar pesando 74 kg. Dois anos depois a balança já marcava 87 kg. Foi quando iniciou um programa alimentar (“Vigilantes do Peso”), no qual eliminou 8 kg. Na ocasião, tentou, inclusive, incorporar exercícios físicos à sua rotina. No entanto, a experiência não se prolongou. “Após os treinos na academia, chegava em casa enlouquecida de fome. Resultado: comia muito além da conta.” A próxima investida foi a porta do endocrinologista. “Mesmo com todas as indicações, não consegui evitar o sobe e desce da balança. Emagrecia (no máximo 6 kg) e voltava a engordar.”
A grande virada Desacre ditada no emagrecimento, decidiu abandonar definitivamente seu projeto de afinar. “Já não tinha mais forças para brigar contra a minha natureza (ser gorda). Resolvi, então, que não faria mais nada para perder peso. Nessa fase, comecei a notar, pelas roupas que usava, o corpo ganhar ‘volume’ extra. Sem contar a saúde que já dava sinais de fragilidade.”
A razão deste “aperto” foram os 106 kg que ela atingiu na época. Os três dígitos assustaram. No entanto, não encontrava uma saída definitiva. Foi quando começou a conversar com uma colega do trabalho que havia passado por uma cirurgia de redução de estômago com sucesso. “Aproveitei para me munir de todas as informações sobre a intervenção. Cheguei à conclusão de que essa seria a única chance para colocar um fim ao martírio com o sobrepeso”
Tal esperança a fez procurar a equipe médica responsável por esse tipo de operação. “Fiz todos os exames solicitados e, enquanto aguardava o ‘grande dia’, fui acometida por uma incontrolável ansiedade. Passei a comer como se fosse a última vez. Enfim, fui para a mesa de cirurgia pesando 112 kg! Se tive medo? O desejo de emagrecer era muito maior”, declara.
Com essa enorme vontade, ela encarou bravamente os dias difíceis que se seguiram após a intervenção. “Não foi tão fácil quanto imaginava. Os 30 dias de dieta líquida, os constantes enjoos e, principalmente, a adaptação aos alimentos sólidos, me fizeram voltar no tempo. Sentia-me como um bebê aprendendo a comer nos primeiros meses de vida. De fato, não deixava de ser um renascimento”, avalia.
Se a vida melhorou? “O colesterol está ótimo, as dores nas pernas desapareceram. Recuperei a saúde e algo que não tem preço: a autoestima. Reaver o amor-próprio foi fundamental. Posso dizer que voltei a viver”, comemora.
PRODUÇÃO: ESTER DIAS. MAKE: MARCO ANTONIO DE CARVALHO. ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: SYLAS JR. RETRATO FALADO (BLUSA VERMELHA); MARISA (BRINCOS E CALÇA CINZA); DIJEAN (SAPATOS). INTUIÇÃO (CAMISA). ACERVO DE PRODUÇÃO (ANEL). FERRUCCI (SAPATOS). COLLINS (VESTIDO E COLARES)