Frustrações pessoais ou profissionais podem abalar a estabilidade de qualquer um. Descubra como pessoas que passaram pela turbulência viraram o jogo
Atire a primeira pedra quem nunca se sentiu fraca diante das dificuldades. Viver é isso: um contínuo jogo no qual prevalece ora a frustração, ora a satisfação. “Somos expostos à frustração a partir do dia em que nascemos. Ela faz parte do nosso desenvolvimento e nos acompanha no decorrer da vida adulta”, explica o psicólogo Rubens Bragarnich, de São Paulo. Se os obstáculos são inevitáveis, o que interessa é desenvolver a capacidade de reagir. Segundo Bragarnich, “todo indivíduo tem em potencial – e em diferentes níveis – a capacidade psicológica de aceitar que o seu desejo não será satisfeito e de dar uma resolução interna ao conflito”. Passados os sentimentos iniciais de raiva e impotência, o esperado é que se dê a volta por cima. Isso pode demorar mais ou menos, conforme as variáveis de temperamento e o repertório pessoal. “O indivíduo extremamente protegido da experiência das frustrações durante a infância tem mais dificuldade em superar problemas e per manece imaturo. Quem viveu o oposto consegue enfrentar melhor as adversidades”, resume o especialista.
Fazer frente a decepções amorosas, hoje, já não assusta tanto a atriz Lara Weber, 21 anos. Ela aprendeu que é possível sobreviver quando tinha 19 anos e foi abandonada por Luiz, um homem nove anos mais velho, com quem viveu uma intensa paixão. Um dia, ele foi apanhá-la na porta da faculdade e sem rodeios lhe disse: “Olhe, não vou te enrolar, não dá mais para ficarmos juntos”. O mundo dela ruiu: “Entrei em choque. Ele não me deu nenhuma explicação e eu não conseguia aceitar aquilo. Só chorava.
Perdi a capacidade de pensar, sentia uma imensa dor. Mandei e-mails quilométricos, liguei, nós ainda nos revimos para conversar, mas de nada adiantou”, diz. Algum tempo depois, Lara encontrou seu príncipe encantado por acaso na rua, acompanhado – só aí descobriu que havia sido trocada por outra. “E ela era feia”, brinca. Hoje, consegue falar do assunto de forma leve, mas na época passou um ano aos prantos. “Minhas notas na faculdade caíram e eu quase perdi a bolsa de estudos. Não queria comer, fiquei doente, nada me interessava.” Para superar a perda, a mãe e os amigos foram fundamentais. “O apoio e o amor que recebi me salvaram da depressão. Chorar e escrever também me ajudou a virar a página. Não posso dizer que não sinto medo de sofrer de novo, mas recuperei a força – eu acredito no amor e na vida, não vou deixar de viver nada em função do medo.”
Desalento e perseverança
A mesma experiência de ter sido preterida viveu a estagiária de relações públicas Ariane Dantas Vieira, 22 anos – só que na área profissional. De família modesta, ela precisava trabalhar para custear os estudos – ou então trancar matrícula. Em busca de estágio ou emprego como recepcionista bilíngüe, chegou a se apresentar em mais de 15 empresas em sete meses. E nada. “Passava pelos testes, chegava às provas finais e, na última hora, não conseguia a vaga”, conta. Uma delas, o emprego dos meus sonhos”, como define, ficou com uma colega de faculdade que, por ironia do destino, tinha bolsa de estudos. Foi a gota d’água. Ao saber que não tinha sido escolhida, Ariane desabou: “Chorei na frente da supervisora”, lembra. Revoltada, esgotada, ela – que era católica praticante – jurou nunca mais ir à missa, pensou em sair do país e mergulhou na introspecção. Resultado: o que era de ordem profissional acabou resvalando para as demais áreas da vida. “Estava no limite, me sentindo uma incapaz, e fiquei de mal com o mundo”, relata. Nada mais previsível. Segundo a psicóloga Acaci Alcântara, esse “fenômeno contaminante” – bastante comum – se deve à falta de uma boa percepção de si. Ela explica: “Em momentos de frustração e de perda, quem não conhece seus limites e, sobretudo, suas virtudes, entra em crise, age como se o mundo tivesse acabado, passa a se sentir um lixo e a generalizar uma dificuldade pontual, abalando outras esferas da vida”. O pior é que, nesse contexto de autoconfiança e amor-próprio em baixa, a tendência é fracassar de novo.
Felizmente para Ariane, apesar das derrotas sucessivas, a perseverança lhe contou pontos. Indicada por uma amiga para uma vaga numa multinacional, ela ainda teve de amargar o fechamento do posto de trabalho no decorrer do processo de seleção e se submeter aos mesmos testes e às mesmas entrevistas novamente, três meses mais tarde, quando a empresa voltou a buscar candidatos no mercado. A disputa foi apertadíssima e, dias depois, ao receber o telefonema avisando que estava contratada, ouviu da supervisora: Escolhemos você porque sentimos que, após tantas idas e vindas, ninguém melhor para dar valor ao cargo”.
Fé e ciência
Tenacidade, sim, mas muita fé também: essas são as armas com as quais a bancária Valéria Coliva, 53 anos, lutou para vencer as adversidades. Exposta a freqüentes problemas de saúde decorrentes de um câncer de mama, ela ainda teve a falta de sorte de cair de uma escada, o que lhe valeu uma séria fratura no tornozelo esquerdo. Passou por duas cirurgias para colocação e retirada de pinos, e a situação se complicou. A cicatriz começou a inflamar, provocando uma osteomielite, que exigiu nova cirurgia e enxerto de tecido. Só que a cicatriz não fechava. A perna de Valéria ficou inchada por causa do enxerto, coberta de manchas escuras, provocadas por vasos estourados, e ainda apresentava vários cortes. Conclusão: a auto-estima de Valéria foi totalmente dilacerada. “Para quem, modestamente, tinha lindas pernas como eu, não foi nada fácil”, lembra. “No começo, quando estava imobilizada, e mesmo quando passei a me locomover com cadeira de rodas, andador, muleta e, por fim, bota ortopédica, ficava imaginando que nunca mais conseguiria andar sozinha. Depois, com a osteomielite, achei que iam amputar a minha perna. Isso não só me colocou frente a frente com a deficiência física como também me fez pensar que nunca mais seria bonita, atraente.”
Mas, como tudo na vida, a tempestade passou. Incansável na procura de tratamentos alternativos que ajudassem seu organismo a reagir, Valéria encontrou um médico ortomolecular que lhe prescreveu um arsenal de vitaminas e uma oxigenoterapia para a perna. O tratamento acertado mais o tempo ajudaram a reverter o quadro, claro, mas, para ela, o que pe sou foi acreditar numa força superior. “Eu havia tido algumas conversas com Deus durante o câncer e voltei a falar com Ele nesse episódio. Coloquei tudo nas mãos Dele... e Ele me ajudou.”
Consciência e vitória
Se Valéria conseguiu sair do poço graças à fé e à disposição para buscar apoio médico, o que moveu Rúbia Moreira, 33 anos, gerente de RH, foi o que os psicólogos chamam de “consciência de si”: condição indispensável para responder de modo criativo à frustração e torná-la uma vivência transformadora.
O curioso é que a história de Rúbia mostra que até uma experiência interessante – como casar e mudar de país – pode ter efeito desestabilizador pelo tanto de mudanças que provoca. Bem-articulada e independente, Rúbia tinha casa própria, carro, dinheiro e um excelente emprego numa multinacional americana até que o na morado, um português radicado no Brasil, resolveu fa lar em casamento e lhe propor tentar a vida em Portugal. Ela aceitou e, para não cair no ócio, decidiu fazer mestrado na área de desenvolvimento humano em Lisboa. Pediu demissão da sua empresa – “uma decisão muito difícil” –, vendeu o carro e alugou seu apartamento. Ela seguiu, então, para a cidade de Cascais, onde ficou hospedada sozinha, durante dois meses, na casa da sogra, enquanto seu futuro marido tratava dos últimos detalhes no Brasil.
De volta ao país para as festas de fim de ano, sentiu-se profundamente deprimida. “Fiquei na casa da minha mãe, sem carro, sem ocupação, enquanto meu noivo e meus amigos todos trabalhavam. Além disso, estava preocupada com a mudança: os portugueses não entendiam meu sotaque e por lá tudo era diferente.” Apesar da insegurança, voltou para Portugal, casou-se e... enfrentou toda sorte de atropelos. “Ainda ficamos na casa da minha sogra um bom tempo. Meu companheiro se recolocou rapidamente, o que não aconteceu comigo – eu não conhecia o mercado português.” Para piorar as coisas, como dependia do marido até mesmo para colocar gasolina no carro ou fazer as compras de casa, Rúbia começou a se sentir “incapaz, triste, deslocada”.
Nesse momento, ter uma meta pessoal foi um fator de equilíbrio. Rúbia queria o diploma. “Eu me dizia que a experiência fora do Brasil só valeria a pena se eu conseguisse terminar o curso. Assim, foquei no meu alvo e me esforcei para sair daquele estado.” Essa firmeza surtiu efeito. Um dia, ao entrar numa agência do Banco do Brasil na capital portuguesa, soube que a instituição só contratava brasileiros. Anotou o nome da empresa de recrutamento, apresentou-se e conseguiu um posto de trabalho. “Em pouco tempo, criei uma rotina diária, fiz colegas que vinham nos visitar em casa, jogar baralho – um pedacinho de Brasil na minha realidade.” Rúbia se fortaleceu tanto que, quando o marido recebeu uma nova proposta de trabalho irrecusável, no Brasil, pediu que ele viesse na frente. Ela ficou em Portugal até obter o mestrado. Tempos depois, “aprovada com distinção”, canudinho debaixo do braço, Rúbia também desembarcou no país,vitoriosa.
Atitudes negativas
• Adotar postura de vítima, achando que o fracasso é algo que só acontece com você.
• Deixar que os pensamentos de desvalorização a dominem.
• Ter atitude de isolamento.
• Manter o foco apenas na fonte do problema, sem olhar as alternativas em volta.
• Deixar que a decepção em determinada área contamine as demais.
Atitudes positivas
• Enxergar as suas capacidades e conseguir entender os seus limites.
• Perceber que, após uma derrota, haverá novas oportunidades.
• Aceitar que a vivência da frustração é inerente à vida.
• Lembrar que tudo é passageiro.
• Poder compartilhar a experiência difícil com alguém de confiança.