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terça-feira, 28 de julho de 2009

Tartaruga

Tartaruga

A procura como bicho de estimação tem aumentado, mas a criação exige paciência devido ao longo tempo até o início da reprodução

Texto João Mathias
Consultor Gustavo Henrique Pereira Dutra*


Há milhões de anos, o planeta Terra era habitado por répteis de proporções bem maiores que seus descendentes atuais. Ao longo do tempo e das mudanças ocorridas no meio ambiente, as espécies passaram por grandes transformações para se adaptar às novas condições de seu habitat natural. Algumas, porém, mantiveram a mesma estrutura, como jabutis, tartarugas e cágados, os mais famosos entre os quelônios.

Com carapaça dura e corpo mole, diferentes configurações de rosto, corpo e patas, movimentos leves e lentos, esse grupo de animais dá mesmo a impressão de que são miniaturas de bichos pré-históricos. Pertencentes à ordem Testudinata, apresentam características semelhantes entre si e se diferenciam mais pelo nome como cada um é chamado. Das diversas variedades de quelônios por aqui, apenas duas espécies são autorizadas pelo Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis para comercialização como animais de estimação. Além do jabutipiranga (Geochelone carbonaria), há a tartaruga tigre d'água (Trachemys dorbignyi), o tipo doméstico mais popular.

Moderadamente côncava, sobretudo nas fêmeas, a carapaça da tigre d'água tem forma oval a alongada, com cor que vai do marrom ao oliva e diversas marcas em tons laranjas em cada escudo. Pernas e pescoço também podem variar do verde ao marrom com listras amarelas - daí o seu nome associado ao felino das selvas. Já a carapaça do jabutipiranga é alongada e negra, com aréolas centrais e amarelas. Na cabeça, as cores vão do amarelo ao vemelho.

A tigre d'água gosta de viver em lagos, pântanos, brejos, riachos e rios, preferencialmente naqueles com correntes lentas, fundo arenoso e com vegetação aquática abundante. É encontrada em vários locais do país, mas principalmente em São Luís, MA, na bacia do rio Guaíba, em Porto Alegre, RS, no rio Paraná e no rio Uruguai. A grande incidência da jabutipiranga, que tem nas florestas úmidas seu principal habitat, ocorre, por sua vez, no sul do Rio de Janeiro e na região de cerrado da Bahia.

Como se alimenta de plantas e carnes, a tartaruga tigre d'água é onívora e pode viver até 30 anos. Chega a medir de 22 a 26 centímetros de comprimento e, em geral, as fêmeas são maiores que os machos. A jabutipiranga, que pode atingir até 51 centímetros, possui dieta semelhante, comendo desde fungos e folhas a caramujos e cupins. É importante ressaltar, no entanto, que as tartarugas podem transmitir bactérias do tipo salmonela, que causam febre, vômito, náusea e diarréia. Por isso, além de exigir cuidados no manuseio, é imprescindível a higienização das mãos após a manipulação delas.

RAIO X
CRIAÇÃO MÍNIMA: 10 animais por metro quadrado com até 10 centímetros de carapaça
CUSTO: filhotes de tigre d'água custam, em média, 120 reais, e de jabutipiranga, 300 reais
RETORNO: o início da comercialização pode ocorrer na primeira ou na segunda geração, se atendidas todas as exigências do Ibama para a atividade em cativeiro
REPRODUÇÃO: em média, duas a três posturas com geração de até 18 ovos cada
MÃOS À OBRA
INÍCIO - a aquisição das diferentes espécies de tartaruga deve ser feita com muito critério. Os animais pertencem à fauna silvestre brasileira e podem ser criados somente com a autorização do Ibama, de acordo com a Instrução Normativa nº 169/2008. Assim, recomenda-se comprar tartarugas apenas de criatórios com referências e certificados de origem de nascimento dos animais em cativeiro. Para criações comerciais, a dica é adquirir exemplares adultos aptos para reprodução.
AMBIENTE - os quelônios devem ser manejados em áreas com acesso à água. Lagos, barragens ou represas podem ser aproveitados, ou construídos tanques, desde que o fundo não seja áspero e tenha profundidade entre 50 centímetros na parte rasa e 1,20 metro na parte funda. É importante montar um sistema de controle de água para o esvaziamento do local no momento da captura e de cuidados com os animais. Também é necessário contar com uma rampa de acesso a uma área seca, além de areia para o momento da desova das fêmeas. Recomenda-se ainda recintos de cria, recria - ou engorda - e de reprodução. Disponibilize vegetação dentro e fora da água e assegure que o local tenha solário e sombra, inclusive troncos, pedras e outros materiais para favorecer os mais diversos habitat (aquático, semiaquático e terrestre). Utilize iluminação artificial em substituição aos raios solares.
AQUÁRIO - é outra opção para a criação de tartarugas, desde que ofereça condições de ambiente natural. Construa a área seca com pedras, mas não exagere na quantidade para não dificultar na hora da limpeza. Uma alternativa é utilizar, no formato e altura que se deseja fazer a plataforma fora d'água, um pedaço de vidro de pequena espessura. Em cima, coloque pedras roladas de rios coladas uma na outra com silicone.
CUIDADOS - faça a troca de água a cada dois dias e, uma vez por mês, retire os animais do aquário para desinfecção, com água sanitária diluída em água, dos vidros e pedras. Tanto no tanque quanto no aquário, a água deve ser mantida entre 24 e 28 graus com lâmpadas incandescentes e próprias para répteis, encontradas em lojas de produtos agropecuários. Embora rústicas, as tartarugas não toleram temperaturas frias, condição que favorece infecções do aparelho respiratório e ocular nos animais.
ALIMENTAÇÃO - onívoras, as tartarugas comem carcaça e vísceras de peixes, peixes picados, mandioca, frutas diversas, folhas, ramas de abóbora, melancia, milho, ração para peixe ou aves, com cerca de 35% a 40% de proteína bruta, e talos de alga comum de aquário como suplemento de vitamina A. Forneça no período mais quente do dia, em quantidade correspondente a cerca de 5% do peso animal. Para alimentar as tartarugas e, ao mesmo tempo, manter a limpeza do local de criação, utilize bacias com água na mesma temperatura do aquário ou do tanque.
REPRODUÇÃO - a cada postura, as fêmeas podem desovar mais de uma dezena de ovos, que são enterrados em ninho escavado no chão. A temperatura da areia durante a incubação é que determina o sexo dos filhotes: quanto mais quente, mais fêmeas nascem. Após dois a quatro meses, ocorre a eclosão de juvenis com cerca de 11 gramas e três centímetros de carapaça. Em dois anos, os machos estão prontos para procriar, enquanto as fêmeas demoram cinco anos. Nos jabutis, contudo, a maturidade sexual somente ocorre após 10 anos de idade.

*Gustavo Henrique Pereira Dutra é médico-veterinário do Aquário Municipal de Santos, SP, tel.(13) 3236-9996, dutra@kingnet.com.br
Onde adquirir: o site do Ibama dá informações sobre criadores comerciais em cada estado do país (www.ibama.gov.br)
Mais informações: Ibama, SCEN Trecho 2, Caixa Postal 09870, CEP 70818-900, Brasília, DF, tel. (61) 3316-1649, ascom.sede@ibama.gov.br