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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Acabe com a anemia de uma vez


Por ser muitas vezes assintomática, essa deficiência nutricional pode levar meses e até anos para ser descoberta. Veja o que é preciso observar no próprio corpo para evitar complicações mais sérias

por rita trevisan / fotos fabio mangabeira

O dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) são alarmantes: cerca de 1/3 da população mundial sofre com a anemia, considerada a deficiência nutricional mais comum em nossos tempos.

Ela causa a redução da concentração de hemoglobina no sangue, uma proteína cuja função primordial no organismo é transportar oxigênio.

A queda nos níveis de hemoglobina se traduz, portanto, numa dificuldade maior do sangue em manter todos os tecidos do corpo devidamente oxigenados.

Unhas planas, quebradiças ou em forma de colher e cabelos excessivamente frágeis podem indicar um quadro de anemia por falta de ferro

Como consequência, o indivíduo que sofre de anemia por deficiência de ferro - existem também as provocadas pela falta de vitamina B12 e ácido fólico, que são mais raras - tende a sentir-se constantemente cansado, fraco, sofre com dores de cabeça, e, em casos mais graves, pode chegar a perceber uma significativa redução nas suas habilidades cognitivas e psicomotoras.

Outros sinais de que a deficiência nutricional está prejudicando a saúde podem estar nas unhas e nos cabelos. "Unhas planas, quebradiças ou em forma de colher e cabelos excessivamente frágeis podem indicar que o corpo já está começando a usar as reservas do organismo para manter seu funcionamento. É imprescindível investigar", alerta a nutricionista da Santa Casa de São Paulo, Andrea Garcia

Nas crianças, um dos sintomas mais comuns é o atraso no crescimento.

O grande perigo é que, em muitos casos, essas mudanças físicas ocorrem de maneira lenta e gradual e não é raro que pacientes demorem meses e até mesmo anos para buscar ajuda especializada.

O que poucos sabem é que, sem tratamento, a anemia pode oferecer sérios riscos à saúde. "Essa deficiência nutricional pode agravar outros problemas, como as complicações coronarianas.

Assim, um indivíduo com a doença e que já tem predisposição a desenvolver males do coração estará ainda mais suscetível a sofrer um infarto, por exemplo", avisa o hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein, José Mauro Kutner.

O especialista alerta, ainda, para outro risco associado à descoberta da doença já em estágio avançado.

Descubra se você tem


Conhecer os sintomas típicos da doença é fundamental para que o tratamento médico seja iniciado precocemente.

Nesse sentido, o primeiro passo é saber que é a baixa concentração de
hemoglobina no sangue o que sinaliza a anemia.

Mulheres com concentração de hemoglobina abaixo de 12 g/dL (12 gramas por decilitro) já estão num patamar de risco. Para os homens, a concentração menor que 13 g/dL é que indica a necessidade urgente de procurar um médico.

A intensidade dos sinais físicos varia de acordo com o quadro. As anemias, em geral, podem ser classificadas como agudas ou crônicas.

As primeiras estão relacionadas com uma grande perda de sangue, ocasionada por uma hemorragia, por exemplo. Seus sintomas são bastante intensos, sendo os mais comuns: cansaço, fraqueza, sonolência, dor nas pernas, taquicardia, palidez, cefaleia, mãos e pés frios e até uma redução nas
habilidades cognitivas e psicomotoras.

Já as anemias crônicas costumam provocar os mesmos sintomas, porém numa intensidade muito menor. Nesses casos, as principais queixas
referem-se à palidez e a uma sensação de fraqueza
provocada por mínimos esforços.

PÁGI

"Não podemos nos esquecer de que a deficiência também pode ser causada pela dificuldade do organismo em absorver os nutrientes dos alimentos. Assim, por mais que a pessoa tenha uma dieta equilibrada, esses nutrientes não chegarão à corrente sanguínea.

Nesse sentido, dizemos que a anemia pode estar mascarando algum desequilíbrio mais importante no organismo e, ao mesmo tempo, é um sinal para que seja investigada mais a fundo.

Daí a importância de se fazer um acompanhamento médico regular", diz o hematologista.

Doenças crônicas, perdas de sangue pelo trato gastrointestinal ou mesmo verminoses podem responder por uma baixa na concentração de hemoglobina no sangue e, nesse caso, será necessário tratar também o problema de base.

Panela de ferro funciona?

fonte: davimar miranda borducchi, hematologista e

Cozinhar nesse tipo de panela, costume das famílias de antigamente, pode ser uma maneira interessante de prevenir e evitar que se agravem os quadros de anemia.

A receita do tempo das nossas avós realmente funciona. "Para se ter uma ideia, a quantidade de ferro em 100 g de molho de tomate cozido em travessa de vidro é de 3 mg.

Porém, se o molho for feito na panela de ferro, o valor sobe para 87 mg", explica a nutricionista Andrea Garcia.

Atenção: mulheres e crianças


Mulheres em período reprodutivo, particularmente na gestação, e crianças nos primeiros anos de vida estão mais suscetíveis a desenvolver quadros de anemia por falta de ferro.

Nas mulheres férteis, são as perdas durante o período menstrual que contribuem para aumentar os riscos.

É muito comum que pacientes com esse tipo da doença apresentem um quadro chamado de hipermenorreia - menstruam num volume muito acima da média.

Desatentas a esse sintoma e considerando tal fato como normal, elas não buscam tratamento.
Assim, a longo prazo, apresentam essa deficiência. Já na gravidez é o desenvolvimento do feto que pode aumentar o uso das reservas da mãe, deixando-a mais fragilizada

.
Por esse motivo, é normal que, durante o pré-natal, elas recebam uma suplementação para repor o ferro perdido.
Nas crianças, o crescimento acelerado é o responsável pelo uso de grande quantidade desse mineral pelo organismo.

"Segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência de anemia por deficiência de ferro em crianças é de 50% entre os menores de cinco anos. Na idade escolar, essa porcentagem cai para 30%", alerta a nutricionista Andrea Garcia.

E tudo isso pode ser evitado de uma maneira fácil, já que um dos exames laboratoriais mais simples, o hemograma, é capaz de detectar a anemia. Para a prevenção, o ideal é repeti-lo pelo menos uma vez ao ano.

Diminua os riscos

Nas classes mais baixas, é a falta de acesso à alimentação adequada que responde pela alta prevalência de anemia. Porém, nos lares mais favorecidos, é a negligência em relação aos bons hábitos à mesa que permite que a doença faça suas vítimas. "O prato tradicional do brasileiro, composto de arroz, feijão e um tipo de carne, está sendo cada vez mais substituído por alimentos industrializados e sanduíches de fast-food. Esses últimos, apesar de oferecerem elevado aporte energético, nem sempre garantem as quantidades necessárias de nutrientes", explica Andrea. Com o passar do tempo, essa mudança de cardápio pode agravar as carências de substâncias essenciais ao bom funcionamento do organismo, como o ferro.

Outros tipos de doença

Além daquela causada pela falta de ferro, que é a mais comum em nosso país, há outros tipos da doença, relacionadas à falta de nutrientes como a caracterizada pela baixa nas reservas de vitamina B12.

Essa molécula é indispensável para a proliferação dos glóbulos vermelhos do sangue e para a manutenção da integridade das células nervosas.

Como se trata de uma vitamina de origem exclusivamente animal, esse tipo de disfunção costuma atingir vegetarianos.

Outros alvos fáceis são as pessoas que têm problemas na absorção da vitamina, normalmente causados por uma doença autoimune da mucosa do estômago, chamada de gastrite atrófica.

Os sintomas mais comuns desse tipo de anemia são língua vermelha e com sensação de ardência e dormência nas extremidades (mãos e pés).

Se não for tratado, o problema pode causar alterações neurológicas importantes.

A interação do ácido fólico com a vitamina B12, por sua vez, é indispensável para o crescimento dos glóbulos do sangue.

Por isso mesmo, uma baixa nas reservas desse ácido pode levar à anemia. Nesse caso os sintomas são diferentes e o mais comum é que a pessoa que sofre desse problema perca completamente o apetite e, como consequência, emagreça muito rapidamente. Nos dois casos, o tratamento com suplementos é o mais utilizado para corrigir a deficiência, além de uma reeducação alimentar.

fonte: davimar miranda borducchi, hematologista e professora da faculdade de medicina do ABC .

Outro erro bastante comum é a combinação inadequada de alimentos durante as refeições.

O bom e velho cafezinho, quando consumido logo após o almoço ou o jantar, pode se transformar num vilão e tanto.

"Bebidas como café, chá, achocolatado e vinho, por serem ricos em compostos fenólicos, polifenóis e fosfatos, podem retardar a absorção do ferro pelo organismo", explica Andrea.

O leite e seus derivados, por conterem grande quantidade de cálcio, também podem inibir o aproveitamento do ferro pelo organismo, quando ingeridos nas refeições principais.

No outro extremo estão os alimentos ricos em vitamina C, como as frutas cítricas e os vegetais escuros. Consumidos durante o almoço ou o jantar, ou logo depois deles, são capazes de potencializar o aproveitamento desse mineral tão importante para o funcionamento do nosso corpo.

"A vitamina C pode aumentar em até três vezes a absorção do ferro", indica Andrea Garcia. Encher o prato de verduras ou terminar suas refeições com uma boa salada de frutas é uma medida preventiva para evitar a deficiência do nutriente.

Uma maneira bastante eficiente de evitar ou tratar o problema é incluir alimentos ricos em ferro na dieta diária. São eles: fígado, rim, coração, carnes vermelhas, de aves ou de peixes, ostras, mariscos, gema de ovo, frutas secas, melaço, pães de trigo integrais e enriquecidos, vinhos, cereais e feijão.

Nos casos em que a anemia está mais avançada ou quando é causada por outras doenças de base, que atrapalham a absorção de ferro, é comum que os médicos receitem um suplemento capaz de corrigir a deficiência.

A medida também é bastante utilizada no caso dos vegetarianos, que suprimem de seus cardápios a carne, uma das principais fontes do mineral.

COMA PARA SE RECUPERAR

Embora o acompanhamento médico seja indispensável no tratamento da anemia, a alimentação correta pode acelerar a melhora de quem já está sofrendo desse mal.

Optar por uma dieta que respeite as necessidades diárias de ferro certamente ajudará a diminuir mais rapidamente os sintomas desagradáveis que a doença causa. A nutricionista Luciana Coppini, consultora do Ganep - Grupo de Nutrição Humana, dá algumas dicas de como incrementar a dieta para tratar ou prevenir esse tipo de deficiência.

café-da-manhã

* Prefira o pão de trigo integral ao convencional e coma de uma a duas fatias.

* Inclua cereais integrais na refeição matinal. A aveia e o farelo de trigo, por exemplo, podem ser consumidos combinados com uma fruta, de preferência cítrica, como o abacaxi, o kiwi e a goiaba. Use de 2 a 3 colheres (sopa) de cereais integrais nesta refeição.

lanches da manhã e da tarde

* Frutas secas são ricas em ferro e uma excelente pedida para os intervalos entre as refeições principais. consuma dois ou três damascos ou figos secos a cada lanche ou, ainda, uma xícara (café) de uvas-passas brancas e pretas.

almoço e jantar

* É recomendado consumir carne vermelha todos os dias, nas duas refeições principais. Embora todos os tipos de carne contenham uma quantidade considerável de ferro, a vermelha é, de todas elas, a campeã nesse nutriente. Uma porção (bife com 100 g) no almoço e no jantar é suficiente.

* Inclua um prato de sobremesa de folhas verdes escuras, como espinafre e couve, nas duas refeições.

* Prefira sucos de frutas cítricas para acompanhar: de laranja, acerola, limão ou abacaxi.

* Consuma pelo menos 2 colheres (sopa) de feijão. O preto contém ainda mais ferro que o carioca.

* Substitua o arroz branco pelo integral. Além de mais saudável, ele tem uma porcentagem maior desse mineral na sua composição.

produção: beth macedo / agradecimentos à marlene e
produ