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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Hormônios também mexem com eles


O que fazer quando o declínio da produção de testosterona altera sensivelmente a qualidade de vida do homem

POR CRISTINA ALMEIDA

Roy completava 52 anos, mas não tinha vontade de comemorar. Todo mundo o descrevia como uma pessoa ativa. Trabalhando como vice- presidente de uma empresa, ainda tinha tempo para treinar o time de hóquei de seu filho. A esposa sempre fora sua melhor amiga e suas vidas giravam em torno dos filhos... Mas, nos últimos tempos, Roy não era o mesmo. Estava sempre esgotado e, após o jantar, seu desejo era ficar no sofá, cochilando.

A relação com sua mulher também mudara: agora brigavam mais, e Roy não tinha nem disposição para o sexo. Na vida profissional não era diferente, pois ele achava que o novo assistente desejava roubar seu lugar. Já não havia certezas sobre si e o futuro. Os colegas percebiam sua irritação. "O jogo de amanhã? Como posso escapar dele? Apenas não sinto entusiasmo pelas coisas... Ah, eu não sei... talvez esteja envelhecendo..."* O relato de Roy retrata uma situação muito comum entre os homens.

Por volta dos 50 anos, uma grande parcela deles apresenta um declínio na produção de testosterona, o hormônio responsável pelas características sexuais masculinas. É o distúrbio androgênico do envelhecimento masculino (DAEM), mais conhecido como andropausa. Caracterizado pela presença do hipogonadismo, isto é, a diminuição das funções das gônadas (testículos), o distúrbio é considerado uma verdadeira epidemia nos EUA, que acomete entre cinco milhões e dez milhões de homens. Aqui no Brasil, conforme a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a situação parece ser semelhante.

Quer se prevenir?

* Consule regularmente um urologista.
* Coma quantidades moderadas de proteína (carnes, queijos etc.), pois com o tempo há perda da massa muscular e seu consumo é aconselhável.
* Consuma grandes porções de frutas e vegetais, são antioxidantes e têm efeito antienvelhecimento.
* Carboidratos só em quantidades mínimas (pães, doces, arroz, massas).
* Pratique exercícios físicos moderadamente - atividades aeróbicas e peso combinados por 20-30 minutos, algumas vezes por semana, é o ideal.

A andropausa é considerada uma verdadeira epidemia nos EUA, que acomete entre cinco milhões e dez milhões de homens. Aqui no Brasil, a situação parece ser semelhante

MENOPAUSA MASCULINA

O urologista Robert S. Tan, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Texas-Houston, diz que o distúrbio é um assunto muito interessante porque parece ser um fenômeno ocidental, que varia dependendo da parte do mundo onde o homem viva. Assim, uma pesquisa clínica dirigida por Peter T. Ellison, do departamento de Antropologia da Universidade de Harvard, comprova que os americanos têm altos níveis de testosterona na juventude, que declinam com maior velocidade conforme a idade.

Em outros países, como o Paraguai, por exemplo, esses níveis no início são menores e se equilibram com o passar do tempo. Para o urologista Luciano Favorito, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor da SBU, essas diferenças podem estar relacionadas a muitos fatores, tais como genética, hábitos pessoais, alimentação, atividade física e obesidade, mas, quando o DAEM se manifesta, seus sintomas são universais. A andropausa pode ser identificada se houver alguns dos seguintes sinais: letargia, cansaço generalizado, perda da libido e de cabelo (na cabeça, axilas e área genital), disfunção erétil, impotência, diminuição dos testículos, perda da memória, desatenção, mudanças de humor, diminuição da massa muscular e óssea, suores noturnos e palpitações.

MUITOS MEDOS

Para os homens, entre todas as nuances sintomáticas, as piores são mesmo a perda ou diminuição da libido e as disfunções eréteis, cujos processos são separados, mas codependentes. Assim, esse novo estágio da vida gera muita ansiedade e até depressão.

A melhor saída é enfrentar o problema com honestidade, consigo e com uma possível parceira, e agir com tranquilidade, porque a andropausa é um fato natural da vida e esse tipo de disfunção sexual não significa impotência permanente. Robert S. Tan explica que, nessa fase, o homem poderá enfrentar mais dificuldades além daquelas ligadas à sexualidade, pois lidará com suas emoções, com a própria inteligência e coragem, além do caráter e comportamentos infantis.

É claro que isso tudo pode afetar sua vida social: "Com baixos níveis de testosterona, a tendência é se tornarem mais frágeis, buscando maior interação com a família, que pode ter sido relegada por anos. Entretanto, apesar de todas as sensações de impotência que essas mudanças possam gerar, uma pesquisa realizada pela The EAR Foundation, uma ONG norte-americana, revelou que o maior receio dos homens na andropausa é a perda da independência". Não obstante o suporte psicológico possa ser muito valioso nesses casos, o médico mais apto para avaliar a situação é o urologista. Luciano Favorito diz que o diagnóstico é relativamente simples, realizado por meio de uma avaliação clínica associada aos exames de sangue, como a dosagem de hormônio masculino.

Mas Robert S. Tan lembra que esses testes devem ser analisados com muito cuidado, pois os níveis hormonais podem oscilar ao longo do dia. Em sua opinião, é preciso que os parâmetros de normalidade sejam adequados à faixa etária do paciente: "A maioria dos laboratórios não sabe disso e geralmente disponibiliza limites que cobrem uma faixa que vai dos 20 aos 80 anos". Outro aspecto que deve ser considerado, pondera Tan, é o chamado hipogonadismo relativo. "Muitas vezes um homem tem contagem normal de hormônios, mas apresenta todos os sintomas da andropausa", explica.

Como é produzida a testosterona

A hipófise, uma glândula localizada no cérebro, libera os hormônios luteinizantes (LH) e o folículo estimulante (FSH)

REPOSIÇÃO HORMONAL

É aí que entra em cena a Terapia de Reposição Hormonal (TRH), que promove a reposição da testosterona por meio de adesivos, implantes, gel ou injeções. No caso do hipogonadismo relativo, se o paciente responde positivamente à terapia, ele está na andropausa. Aliás, acrescenta Favorito, "quando os pacientes manifestam alterações clínicas e laboratoriais características da DAEM, a reposição é indicada, o que geralmente é feito na forma injetável, com efeitos colaterais mínimos". A providência pode melhorar sensivelmente a qualidade de vida do homem, mas um especialista deve acompanhar o tratamento de perto.

Tan afirma que a terapia é contraindicada para quem tem câncer de próstata, hiperlipidemia (aumento da gordura circulante no sangue) e apneia do sono. E completa: "Os efeitos colaterais, em geral, se limitam ao inchaço das mamas e pernas". Segundo o médico americano, o paciente também deve se submeter a exames regulares para controle da próstata, como o PSA (dosagem do Antígeno Prostático Específico).

Os dois especialistas são unânimes quanto aos benefícios das medidas preventivas. A receita combina bons hábitos alimentares e de saúde, além das consultas regulares com um urologista. Tan enfatiza ainda a importância da dieta nesses casos, já que, para ele, o homem é aquilo que come. Assim, seu conselho é estar muito atento na hora das refeições para consumir quantidades moderadas de proteína e grandes porções de frutas e vegetais: "Carboidratos devem ser consumidos minimamente, e isso inclui pães, doces, arroz e massas.

A razão é que uma dieta com alimentos ricos em proteínas e pouco carboidrato constitui a base de sustentação dos níveis de testosterona e crescimento hormonal". As frutas, por sua vez, agem como antioxidantes atuando com suas propriedades anti-idade. Quanto à prática de exercícios, pouca ou muita atividade são desaconselháveis: correr mais de 60 minutos, por exemplo, pode abaixar os níveis de testosterona. "O segredo está no equilíbrio e nos exercícios aeróbicos moderados, combinados com pesos, por 30 minutos e algumas vezes por semana", recomenda Tan.

*O TEXTO QUE ABRE A REPORTAGEM É UMA ADAPTAÇÃO DE RELATO REAL PUBLICADO NO SITE WWW.ANDROPAUSE.COM, GENTILMENTE CEDIDO PELA SCHERING-PLOUGH CORPORATION.