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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Fique mais inteligente

Deixar o cérebro afiado só depende de você. O segredo está em estimulá-lo com atividades intelectuais e físicas, além de algumas dicas na alimentação


Por Leonardo Guariso


Em um minuto, e sem usar o dedo como auxílio, você saberia dizer quantas vezes a palavra “cérebro” aparece nestas duas páginas de reportagem? Tente, e depois volte para cá.

Embora simples, o exercício que acabou de realizar fez com que sua massa cinzenta produzisse novas conexões, em outras palavras, um estímulo para aprimorar sua inteligência. Aliás, neste exato momento, elas estão acontecendo: a leitura também faz com que os neurônios trabalhem mais.

Mesmo na terceira idade, o cérebro é capaz de formar novas conexões

Parece complicado, mas é simples. Imagine um atleta que está acostumado a correr 15 quilômetros de bicicleta. O que aconteceria se ele aumentasse a distância para 30? Provavelmente faltaria fôlego, mas, com o tempo, alcançaria o objetivo. O mesmo vale para o cérebro. Sem “desafiá-lo”, continuará fazendo o “básico”, no entanto, diante de tarefas inusitadas, é ativado por novos estímulos, estes responsáveis por melhorar o desempenho do órgão. “Mesmo na terceira idade ele é capaz de formar novas conexões, portanto, nunca é tarde para mantê-lo jovem”, conta o neurologista Ricardo Nitrini, do Hospital das Clínicas. Em tempo, a palavra aparece seis vezes.

E até mesmo a internet é aliada na hora de deixar a massa cinzenta mais esperta, principalmente para o idoso. Sabe-se que o envelhecimento diminui a atividade celular, como consequência, o pensamento fica mais lento. Mas um estudo elaborado por cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, sugeriu que navegar pela web estimula centros do cérebro que controlam a tomada de decisões e o raciocínio complexo, melhorando as funções cerebrais. Pode-se dizer que o benefício para o órgão é parecido com o da tradicional palavra-cruzada.

Navegar pela internet estimula centros do cérebro que controlam o raciocínio complexo

Tudo embaralhado
Vcoê siaba que seu créebro é caapz de defricar uma palvraa msemo que ela etesja emlharabada? A bcarindeira só funocina se a priimera e a úlitma lerta pernemacerem na oredm cetra. Isso poqure o órãgo só prciesa assmiilar almugas lertas da palvraa praa endetenr o conxetto. Viu?

CÉREBRO E MÚSCULOS

São inúmeras as táticas para treinar a cabeça. Algumas você já conhece, como exercícios de lógica ou estudar um novo idioma. Outras, por mais estranhas que pareçam, também fortalecem a musculatura cerebral. Já pensou em aprender a escrever com a outra mão ou então se vestir de olhos fechados? “Aos poucos, atitudes como essas podem modificar a estrutura do cérebro para melhor. Como resultado, o raciocínio fica mais rápido”, explica Nitrini.

Com a prática de atividades físicas a história é a mesma. Antes, acreditava-se que o órgão exigido em um exercício era o mais beneficiado. No entanto, descobriuse que caminhar, nadar ou pedalar, por exemplo, alteram o padrão de funcionamento das células cerebrais, colaborando para a sinapse – oxigenação e comunicação entre as células nervosas.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Illionois, nos Estados Unidos, só confirmou a informação ao lado. Segundo os especialistas, os voluntários que se saíam melhor nas atividades físicas tinham aproveitamento escolar considerável. Assim, constataram que ela ajuda a aprimorar o desempenho do cérebro. Mas, por que consagrados atletas sequer terminaram o Ensino Fundamental? Bom, isso já é outro papo.

Na mesma linha da entidade americana, outra pesquisa comprovou os efeitos positivos do exercício para a massa cinzenta. Segundo os autores do trabalho, da Universidade de Melbourne, na Austrália, pessoas com problemas moderados de memória (sem causar grandes males no dia-a-dia) que seguiram um programa diário de atividades físicas apresentaram melhora na função cognitiva em comparação aos que não participaram do treinamento. Explicação: o exercício aumenta o fornecimento de sangue para o cérebro.

Investir em um cardápio saudável ajuda a evitar “brancos”

ALIMENTE-SE BEM

O que pode parecer um detalhe na alimentação, na verdade, faz bem à cabeça. O alimento escolhido no prato, sim, interfere na performance do cérebro. É claro que o ideal é manter um cardápio saudável, e, neste caso, algumas substâncias são mais eficientes do que outras, pois agem direto no alvo. A colina é uma delas. “Essa molécula, encontrada em abundância na gema do ovo, ajuda a formar novas células cerebrais e a reparar aquelas danificadas pelos radicais livres [responsáveis pelo envelhecimento precoce]”, explica a nutricionista Lilia Zago, professora do curso de Nutrição da Pontifícia Universidade de Campinas (PUC).

No entanto, a principal fonte de energia para o órgão é outra: a glicose. É obtida através de alimentos ricos em carboidratos (pão francês, por exemplo), nutriente responsável também pela produção de energia para o corpo. Portanto, perceba: diminuí-lo drasticamente para seguir uma dieta pode não ser boa ideia.

CARDÁPIO PARA SE LEMBRAR

Uma das características de quem tem a mente afiada é a boa memória. Se esquecer as coisas, por simples que pareçam, é algo constante no seu dia-a-dia, de duas, uma: ou você é distraído ou precisa melhorar sua memória. Para a segunda opção, lembre-se das seguintes substâncias: fisetina, ômega-3, flavonoides, vitaminas do complexo B e ferro. “Elas trabalham na manutenção das funções cognitivas do cérebro”, pondera Lilia. Quando baixas, essas transformações na massa cinzenta aumentam as chances do famoso “branco”.

No entanto, antes de apresentar os alimentos recheados desses nutrientes, vale destacar um ponto: esquecer é normal, é fisiológico. Quem decide o que entra e fica é o próprio cérebro. “Informações de pouca importância deixam de ser armazenadas para dar lugar a outras mais relevantes”, afirma o neurologista Ricardo Nitrini.

De volta à alimentação, uma pesquisa elaborada por cientistas da Universidade de Salk, nos Estados Unidos, revelou que a fisitina, encontrada na maçã, na uva, no tomate, no kiwi e na cebola, pode ser considerada fundamental para fortalecer a memória, pois ajuda na produção de novos neurônios.

Para as outras substâncias, o benefício é o mesmo. O que muda é o processo. No caso do ômega-3, abundante na sardinha, no salmão e no atum, age como um esquadrão de defesa no organismo e ainda preserva as células nervosas. Já os flavonoides, presentes na uva, são capazes de regenerar as células afetadas com o tempo. As vitaminas do complexo B – nos grãos integrais – favorecem a transmissão de informações entre os neurônios. Por fim, o ferro, em quantidade elevada nas carnes, essencial no transporte da hemoglobina, proteína que leva oxigênio para as células cerebrais metabolizarem a glicose. “É importante adicionar esses nutrientes às refeições diárias, no entanto, uma alimentação equilibrada unida à prática de exercícios é ainda mais eficiente para o cérebro”, explica Lilia.

Para quem trabalha 24 horas por dia, seu cérebro merece mais reconhecimento. Quanto mais exercitá-lo, melhor será sua resposta para as tarefas do dia-a-dia. E não se esqueça: sua massa cinzenta se adapta ao seu estilo de vida, logo, deixála mais afiada só depende de você!

Substâncias geniais
Você pode caprichar na alimentação e dá uma forcinha para seu cérebro trabalhar melhor

• Colina: presente com fartura na gema do ovo e na soja.

• Fisetina: no morango, no pêssego, na uva, no kiwi, no tomate, na maçã e na cebola.

• Ômega-3: abundante em peixes de água fria, como a sardinha, o salmão, o atum, a anchova, o arenque e a cavala.

• Flavonoides: está na ameixa, na amora, na uva, na maçã, no chocolate amargo e no brócolis.

• Vitaminas do complexo B: grãos integrais, leguminosas, leite e derivados são algumas fontes dessa substância.

• Ferro: nos vegetais verde-escuros, no feijão, no grão-de-bico, nas nozes e nas castanhas.


O ômega-3, abundante no salmão, preserva as células nervosas