Os "flowering teas", costurados manualmente com uma flor seca envolta  em folhas de chá, são importados da China e podem ser encontrados em SP 
 LUIZA FECAROTTA
DA REPORTAGEM LOCAL
  No início da primavera, no  sudeste da China, mulheres  acordam pela madrugada para  colher pequenas flores, ainda  tenras, cobertas por gotinhas  de orvalho. Depois, são ressecadas e envoltas em folhas de chá  verde, também secas, como um  novelo. São os "flowering teas".  Essas trabalhadoras do campo  nem sequer podem comer alimentos com cheiro forte, como  cebola e alho, que possam alterar os aromas da planta, que absorve facilmente odores.
Após a colheita e secagem das  flores e folhas, artesãs costuram à mão as bolinhas de folhas  de chá com um fio de algodão  cru. Para consumir os chás florais, coloca-se o novelo em uma  xícara ou bule translúcido e, devagar, acrescenta-se água  quente. Observe. Como no filme de Sofia Coppola, Maria Antonieta (Kirsten Dunst) mostra  o ritual que se sucede no palácio de Versailles: as folhas se  expandem, se separam umas  das outras e, lá de dentro, surge  uma florzinha, que pode ter cores e formatos diversos.
Difíceis de serem encontrados por aqui, os "flowering teas" acabam de chegar ao Brasil em nova leva, que deve estar disponível aos clientes em menos de um mês no novo Ping Pong, restaurante da rede londrina de cozinha chinesa. Para consumo no local, já estão no cardápio, mas poderão ser levados para casa em caixinhas de nove unidades, por R$ 63. "Nossos fornecedores na China trabalham diretamente com os produtores e, assim, obtemos um chá excepcionalmente fresco", diz o presidente do Ping Pong Internacional, Jean-Michel Orieux. "Usamos vários tipos de flores. A escolha depende da cor e do sabor que estamos buscando em cada bebida." No cardápio, aparecem arranjos artesanais com flores como amaranto, pétalas de lírio, flor de jasmim e calêndola amarela, entre outras.
Carla Saueressig, 50, proprietária d'A Loja do Chá e entendedora do assunto, chama a  atenção para a variedade de  chás do mesmo país, que ela  apelidou de "pirotécnicos".  "Muitos costumam ter algum  tóxico. Na China, não existe  controle disso. Por isso, todos  os chás da marca passam por  um especialista, que analisa as  substâncias." Na loja, há apenas  duas amostras dos chás florais,  ambos orgânicos. Um deles, é o  Yin Zhen, também chamado de  "agulhas de prata". Trata-se de  um chá branco, feito apenas  com os brotos da Camélia sinensis (única planta que dá origem ao chá), colhidos no início  da primavera. Passam por um  processo milenar que permite  que alcancem apenas 2% de  fermentação. Amarrados, guardam a malva, uma florzinha rosa que exala aroma de lavanda.
Já dizia o músico Ed Motta  -e apreciador dos chás- que  esse chá branco pode ser comparado a uma trufa branca. Na  loja, uma bolinha custa R$ 77.  Deve ser preparada com água a  80ºC, com tempo de infusão de  3 minutos e pode ser reutilizado cerca de três vezes.
Mu Dan é o outro tipo de chá  floral vendido ali. Colhido nas  terras altas da Província de  Yunnan, também na China, as  folhas do chá verde são amarradas já em forma de flor e, em  contato com a água a 90ºC,  abre-se uma flor colorida, como uma dália (R$ 39).
Foram os chás que levaram a  executiva de marketing Cintia  Sanches Lima, 41, a servir ali  chás florais em sua chocolateria, a Chocolat des Arts. De malas prontas para para a China,  ela pretende conhecer o processo de fabricação desse produto que a fascinou. "Chás florais agregam pessoas, devem  ser contemplados." Hoje, vende oito tipos de flor (R$ 10, cada  uma) e conquistou clientes  também em outros Estados,  como Santa Catarina.
Em sua amostra, Cintia aposta no suave sabor do jasmim,  aromatizado especialmente  para a chocolateria. Haidee,  funcionária chinesa responsável pela exportação de chás da  empresa fornecedora da loja,  explicou à Folha que as "bolinhas de flor", depois de prontas, são "assadas" para secar e,  em seguida, aromatizadas com  as flores de jasmim.
"A flor de chá é a nossa arte  tradicional e manufaturada. De  acordo com a minha própria  experiência de degustação, beber chás é também uma arte.  Primeiro cheire, sinta a fragrância. Depois sinta o gosto.  Em seguida, sinta novamente o  gosto. Finalmente, haverá um  sabor doce na boca. Esse gosto  me traz frescor."
   
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