Do GG ao pp

sábado, 20 de junho de 2009

Ai, que raiva!

Parece difícil, mas com um pouquinho de reflexão, treino e equilíbrio é possível domar sua fera interior e usá-la como aliada para melhorar suas relações


por Patrícia Affonso


Raiva: você já deve tê-la sentido. A maioria das pessoas prefere fazer vista grossa, fingir que nunca se deparou com ela, mas, na realidade, quando menos se espera, a calmaria cotidiana é interrompida por um incômodo que começa manso e aos poucos ganha espaço, fazendo um verdadeiro alarde interior.

Alguns se exaltam, sentem o sangue ferver e o coração bater forte e acelerado, como se fosse escapar de dentro do peito. Outros reagem de forma mais pacífica e antes que as palavras ganhem vida própria e saiam em defesa, preferem engoli-las a seco e permanecer com a inconveniente sensação de nó na garganta. Pois é, seja qual for o motivo é difícil prever ou ensaiar como responder à raiva, emoção tão conhecida e ao mesmo tempo evitada pelos seres humanos. "Principalmente devido à influência religiosa, nossa sociedade tachou alguns sentimentos como feios e impróprios. Por isso, muitas pessoas têm vergonha de assumirem que sentem raiva, aliás, um erro, pois é uma emoção natural à condição humana", afirma a psicóloga clínica Dora Lorch, de São Paulo.

Tudo o que se sente, seja bom ou ruim, tem um propósito na vida e está em contato com aspectos importantes de si mesmo. Com a raiva é igual. Por isso, melhor do que ignorá-la ou extravasá-la com uma intensidade devastadora é, antes de tudo, entender seus motivos. Só assim é possível criar uma estratégia para acalmar a fera que existe dentro de você e caminhar rumo a uma vida mais serena.

Saber o motivo da fúria é importante para poder domá-la

As causas da tempestade

Cada pessoa é um universo diferente, com gostos, normas e restrições particulares. Por isso, não dá para generalizar os motivos que provocam a ira. Sabe-se que ela funciona como uma espécie de alerta - um sistema de defesa mediante a algo que rompe as barreiras de preservação, sejam morais, emocionais ou físicas.

E aí entram uma infinidade de razões, tais como aquela injustiça cometida pelo chefe, o comportamento invasivo da sogra, o descaso do namorado... Junto com o desconforto vem também a cobrança: quais mudanças serão feitas dali para frente, a fim de solucionar o problema? E é exatamente essa a principal origem do medo de se confrontar com tal emoção. Tem-se a raiva porque, muitas vezes, ela implica em rompimentos, mostrando que determinadas situações são intoleráveis.

Daí a necessidade de mudar de postura, negociar a mudança do comportamento de alguém ou ainda, quando essas alternativas não forem eficazes, finalizar a relação. "Além disso, há a frustração, pois a raiva frequentemente aparece quando nossa expectativa sobre algo não se cumpre", comenta o psicólogo Nichan Dichtcekenian, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

As duas faces da moeda

Ainda que a sensação de raiva não seja das melhores experiências que alguém pode desfrutar, ela não deve ser vista como totalmente negativa. Afinal, se por um lado enraivecer-se causa sofrimento, por outro promove o descontentamento - um passo determinante na busca de soluções. "Mais do que um mecanismo de defesa, a raiva é uma ferramenta de transformação daquilo que nos desagrada. Ela nos abastece de energia para nos movermos na direção certa", opina Dora.

E para aproveitar esse lado criativo do sentimento é preciso saber domá-lo, dosar sua proporção. Sair por aí esbravejando nunca ajudou ninguém. "É preciso lembrar que quando agimos com agressividade, consequências virão", diz Dichtcekenian.

Sufocar o sentimento e guardá-lo para si também não é boa saída. "Causa mal-estar emocional e, a longo prazo, até físico [veja o box]. Além disso, tem o efeito de uma bomba-relógio. Você vai guardando, guardando e quando percebe estourou diante de um motivo pequeno, pouco merecedor de tanto estresse", completa o psicólogo.


Portanto, lição número um: jamais agir por impulso, movido pelo calor das emoções. O efeito pode ser catastrófico. "Quando estamos nervosos, a tendência é falar mais do que gostaríamos e tentar impor nossa opinião, a qualquer custo.

O corpo sente

Confira algumas das principais reações físicas quando se sente raiva

 Ttaquicardia: o coração começa a bater mais rápido e forte, para mandar sangue a todas as partes do corpo.
 Rrigidez muscular: parte do sangue que deixa de circular nos capilares é transferido para os músculos, que ficam prontos para entrar em ação.
 Rrespiração acelerada: o indivíduo começa a respirar mais rapidamente, pois é o oxigênio que "queima" a glicose, o combustível do organismo.
 Pupilas dilatadas: ao menor sinal de ameaça, a atenção do olhar fica redobrada.
 Pressão nas alturas: conhecidos como hormônios do estresse, o cortisol e a adrenalina, produzidos em grande quantidade pelo corpo quando se está nervoso, contraem os vasos sanguíneos e fazem subir a pressão arterial.

Fonte: Geraldo Possendoro, psiquiatra, psicoterapeuta e professor de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)


Você sabe controlar a sua raiva?

Responda as perguntas abaixo e descubra se, diante de uma crise de nervos, você perde o controle sobre suas emoções

1. Em uma fechada no trânsito, você...
a) apenas se preocupa em retomar a calma e dirigir com atenção
b) sem se exaltar, sinaliza ao motorista que ele foi imprudente
c) buzina e xinga. Esse cara pensa que está sozinho no mundo!

2. Como você reage (ou reagiria) a cantadas do chefe?
a) se omite, com medo de perder o emprego
b) mostra em suas atitudes o quanto é profissional, a fim de desmotivar as próximas investidas dele
c) ofende-se, discute e pede demissão

3. Você está contando para uma pessoa sobre um acontecimento importante, porém, no meio da conversa, se dá conta de que ela não está prestando atenção. Então...
a) chateado, desiste da conversa
b) tenta falar com mais entusiasmo para ganhar a atenção dela
c) reclama pelo descaso e sai andando

4. Você está tentando assistir TV, mas alguém da casa, como de costume, ligou o som no último volume. O que faz?
a) desliga a TV e se ocupa com outra coisa
b) sobe e pede, com jeito, para que a pessoa abaixe o volume
c) Faz um escândalo

5. Você e um grupo de amigos alugaram uma casa na praia. Todos são muito animados e prestativos, exceto uma pessoa que, além de reclamar dos programas propostos, não ajuda em nenhuma das tarefas da casa. Você tenta resolver...
a) ficando na sua. Afinal, não quer ser tachado de implicante
b) tenta, com a ajuda dos demais, propor coisas para ela fazer
c) fica reclamando com os outros sobre a postura da fulana

CONFIRA O RESULTADO EQUIVALENTE ÀS RESPOSTAS

Mais alternativas A - Raiva remoída

Saber se conter, em determinadas situações, é muito bom. Porém, quando esse comportamento é corriqueiro, o melhor mesmo é se expressar. Fique atento: comece, aos pouquinhos, a dar sua opinião sobre os assuntos que o cercam. Logo, você notará os reflexos positivos sobre sua autoestima e segurança.

Mais alternativas B - No foco

Você não fecha os olhos para o que acontece à sua volta. Mas nem por isso precisa mostrar as garras diante de tudo o que o desagrada. Afinal, já percebeu que com equilíbrio e diplomacia fica mais fácil convencer as pessoas e chegar a um resultado satisfatório.

Mais alternativas C - Bomba-relógio

Você é do tipo de pessoa que vivencia todos os sentimentos com muita intensidade. Por isso, quando é tomado pela raiva, não hesita em bater boca. No fundo, percebe que fala mais do que deveria, faz tempestade em um copo d´água e, no final, não chega a lugar algum. Que tal refletir um pouco mais antes de se estressar tanto?

Assim, fica difícil estabelecer um acordo. Se puder, caminhe um pouco, se afaste do alvo da ira. Quando estiver mais calmo, tudo parecerá mais simples", propõe Dora.

O segundo passo é admitir a raiva e refletir sobre seus motivos. É importante que, antes de tomar partido, você tenha certeza sobre a autenticidade do sentimento. Depois, é a hora de expor o que pensa ao outro, sem imposições, mas com argumentos. Nem sempre a resposta virá como se espera, mas sem dúvida estará se livrando de um peso grande demais para carregar sozinho. "O diálogo pode ter resultados positivos ou não, mas somente o fato de ter aceitado e entendido o incômodo deixa a pessoa mais calma, confortável e segura", finaliza Dichtcekenian.