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sábado, 20 de junho de 2009

Dieta do equilíbrio

Restritiva para alguns, educativa para outros: conheça os segredos da alimentação macrobiótica


por Caroline Afonso


Milenar, o conceito de dieta macrobiótica não se restringe ao que se leva à boca. A alimentação é só uma parte dessa filosofia oriental, que começou a ser difundida na década de 1960. Representada no Brasil pelo professor Tomio Kikuchi, a macrobiótica propõe o equilíbrio não apenas do que está no prato, mas ainda da mente e do corpo. "Não nos alimentamos só pela boca, mas também pelo ouvido, pelos olhos, pelo nariz e pelo umbigo, durante a gestação", explica Elio Pithon, discípulo direto do professor Kikuchi.

À frente do Instituto Princípio Único, entidade que reúne um restaurante, uma escola de culinária, uma comunidade-escola e uma editora, o professor Kikuchi aprendeu diretamente com George Oshawa, o precursor da filosofia macrobiótica, a importância de controlar o que entra no organismo e na mente no intuito de obter maior longevidade e qualidade de vida.

A alimentação equilibrada − que inclui cereais, verduras, legumes, frutas, raízes, soja e pequenas quantidades de carne, preferencialmente peixe − é o conceito de vida macrobiótico. "Prezamos pela educação instintiva. O nosso corpo tem memória, sabe o que fazer e como fazer", explica Pithon. Portanto, segundo ele, as refeições diárias devem seguir o limite do organismo. "As pessoas estão acostumadas a comer pelo desejo, sem respeitar o corpo", afirma.

Por levar em consideração as necessidades do organismo, a macrobiótica não impede o uso de nenhum alimento. "Ao contrário do vegetarianismo, esta dieta independe do consumo de carne", explica o nutricionista especializado em Nutrição Vegetariana, George Guimarães. "Como dizer para uma pessoa que mora no frio da Rússia, por exemplo, que ela não pode comer carne?", exemplifica Pithon.

fotos shutterstock.com
O conceito auxilia na prevenção e no tratamento de doenças crônicas

O segredo da dieta macrobiótica não está nos alimentos escolhidos, mas no preparo dos pratos. Apesar de ter sido criada no oriente, não é comum o uso de comida crua e não se admite frituras e produtos industrializados. "O preparo é fácil. Geralmente, os alimentos são cozidos com temperos leves", explica Guimarães.

A dieta macrobiótica propõe o equilíbrio na alimentação, da mente e do corpo

Comunidade do bem
A alimentação saudável traz melhorias à saúde dos adeptos dessa dieta. Nas primeiras semanas, a pessoa sente mais disposição, o intestino funciona regularmente e o sono se torna tranqüilo. A longo prazo, os benefícios são maiores. "Por ser uma dieta com baixo teor de gordura, rica em fibras e em alimentos integrais, auxilia na prevenção e no tratamento de doenças crônicas e degenerativas", explica Guimarães.

Muitos daqueles que procuram o Instituto Princípio Único buscam a cura para doenças como câncer. Em vez disso, encontram uma comunidade de apoio, pois Pithon faz questão de explicar que a alimentação servida no restaurante do Instituto é incapaz de curar qualquer enfermidade. "É um instrumento complementar ao tratamento médico", diz. Carinhosamente denominada de "macrô", o grupo que segue esta dieta é heterogêneo. "Não há um perfil específico de pessoa que freqüenta o nosso restaurante", afirma Pithon, acrescentando que o lugar é visitado por homens, mulheres, idosos, estrangeiros, orientais. Já no consultório de Guimarães, o público predominante é feminino, na faixa dos 20 aos 30 anos.

Os três pilares da dieta macrobiótica
Por estimularem reações opostas, os alimentos ying e yang devem ser consumidos com moderação para não atrapalhar o equilíbrio da refeição. Já os neutros possuem cartão verde na hora de montar o prato. Conheça-os!

Ying: açúcar, refrigerantes, leite e seus derivados. O consumo excessivo desses alimentos pode estimular a fadiga, a insônia e a depressão.

Yang: carnes vermelhas, frango, massas e ovos. Quando ingeridos sem controle, podem provocar irritabilidade, hiperatividade e estresse.

Neutros: as verduras, os legumes, a soja e raízes, como a cenoura e o nabo. Apesar de liberados, também precisam ser consumidos com parcimônia, de acordo com as necessidades do organismo.

Macrobiótico por um dia
Confi ra três sugestões (café-da-manhã, almoço e jantar) para você conhecer o típico cardápio macrobiótico.

 Para começar o dia, geralmente usam-se pratos desenvolvidos com arroz integral. Há variações como papa de arroz, creme de arroz ou bolinho de arroz.

 O almoço costuma ser mais variado, já que podem ser criadas refeições com legumes, verduras e raízes. Prefi ra comer a porção de carne nesta refeição. Sugestão: cozido de legumes. Preparado com grão- de-bico, cará, cenoura, abóbora, vagem e escarola, o prato pode ser complementado com arroz integral e bolinho de mandioca.

 À noite, pode-se repetir os ingredientes do almoço, pois são leves. Porém, sugere-se terminar o dia com uma sopa, como a de nabo e cenoura.

A combinação de alimentos é feita conforme a necessidade de cada um

Prato singular
Uma das principais características da dieta macrobiótica é a exclusividade. Como cada organismo é único, se torna impossível ditar um cardápio universal. A combinação de ali- mentos é feita conforme as necessidades de cada pessoa. "Na primeira consulta, avalio a condição de saúde do paciente e converso com ele para saber quais são suas expectati- vas e seu estilo de vida", explica Guimarães. Pithon demonstra a mesma preocupação. "Não estimulo ninguém a comer apenas aqui no restaurante. É preciso cozinhar em casa, descobrir o próprio sabor", afi rma. Para muitos, a transição de uma alimen- tação desequilibrada, com excesso de gor- duras e frituras, para a dieta macrobiótica, é feita em pouco tempo. No entanto, em outros casos, a mudança é demorada. A substituição de alimentos é feita de forma gradual para que a pessoa se acostume com o novo cardápio e encontre os substitutos para os alimentos que serão eliminados do dia-a-dia. Quando há o corte de laticínios, por exemplo, fontes de cálcio, é necessário que opções como gergelim e brócolis já te- nham sido incluídos na dieta. "O importante é lembrar que o corpo é uma constituição orgânica e precisa ser alimentado para fun- cionar corretamente", afi rma Pithon.