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terça-feira, 28 de julho de 2009

Carpa ornamental



Boa adaptação do peixe às condições de cativeiro torna fácil o manejo, mas o mercado concorrido exige planejamento antes de se lançar na atividade

Texto João Mathias
Consultor Nilton Rojas*


O simples ato de observar peixes nadando, ainda que por alguns instantes, é um antídoto seguro contra o estresse. Pelo menos é o que pensam os chineses, que consideram essa prática zen uma fonte de serenidade e equilíbrio para enfrentar o dia a dia. A milenar sabedoria desse povo deve estar certa mais uma vez, pois em todo o mundo os peixes coloridos vêm ganhando espaço na ornamentação de lagos e aquários.

As carpas aparecem com destaque entre as espécies usadas com essa finalidade. Sobretudo as da linhagem especial nishikigoi, originária do Japão, cujos exemplares apresentam estampas diferenciadas e são admirados como joias pelos orientais. Essas belas carpas ornamentais podem apresentar escamas vermelhas, brancas, pretas, amarelas e marrom, além de mostrar tons prateados, dourados, azulados ou mesmo cintilantes.

Entre uma carpa colorida comum, sem padrão de cores definidas, e uma autêntica nishikigoi, o preço unitário de alevinos, com cerca de 8 centímetros de comprimento, oscila na faixa de R$ 0,30 a R$ 4,50. No caso de reprodutores com aproximadamente 30 centímetros, há boa valorização: os preços vão de R$ 10 a R$ 150 a unidade.

As carpas se adaptam com facilidade ao cativeiro, são particularmente resistentes e ainda têm boa capacidade de reprodução. Mas a criação não apresenta apenas vantagens: o mercado é bastante competitivo e é preciso avaliar bem a viabilidade econômica antes de iniciar a atividade.

Sempre é bom contar com o acompanhamento de um especialista na hora de implantar um projeto. É importante respeitar as particularidades da propriedade, do clima da região onde está instalada e da demanda a ser atingida. Esses fatores darão condições para definir o número e o tamanho mais adequado dos viveiros para as diversas fases e categorias da criação (reprodutor, larvicultura, alevinagem e engorda). Todos devem ser proporcionais, para possibilitar um fluxo de produção.

Como se trata de animais aquáticos, o transporte até o cliente é uma etapa delicada. Criadores experientes embalam os peixes em sacos plásticos insuflados com oxigênio para levá-los até o local de comercialização. Espelhos d'água em jardins públicos e privados são os principais destinos das carpas para ornamentação.

RAIO X
CRIAÇÃO MÍNIMA: um milheiro
INVESTIMENTO INICIAL: o preço de cada alevino varia de R$ 0,30 a R$ 4,50, além dos custos com a construção dos lagos
RETORNO: entre dois e três anos
REPRODUÇÃO: uma fêmea pode gerar até 100 mil óvulos
MÃOS À OBRA
INÍCIO - prepare o local que receberá as carpas para criação, como lagos rasos, para facilitar a observação dos peixes. Os alevinos devem ser adquiridos de criatórios com indicação, para assegurar o bom material genético do animal.
AMBIENTE - as carpas vivem bem em qualquer região do país, pois suportam grande variação de temperatura. Contudo, a faixa ideal é entre 15 e 25 graus célcius. O local de criação pode ser um aquário ou um lago. Em propriedades rurais, o projeto é mais indicado pelo espaço que pode oferecer para a construção de viveiros escavados na terra. Escolha áreas com solos argilosos, recebimento de água por gravidade e por meio de caneletas e sistema de escoamento para o manejo fácil e rápido dos peixes.
VIVEIROS - são distribuídos de acordo com cada etapa da criação. Para a reprodução, são necessários de dois a três viveiros com cerca de 50 metros quadrados. Devem ser respeitadas a densidade de um peixe para entre 2 e 4 metros quadrados de área de superfície e a proporção de uma fêmea para dois machos. Na fase de larvicultura e alevinagem, a recomendação é utilizar de quatro a cinco viveiros de 100 a 200 metros quadrados com água rica em plâncton - alimento natural - para eclosão dos ovos. Esses viveiros são utilizados em sistema de rodízio para eclosão dos ovos e crescimento das larvas por um período de 30 dias. Depois disso, os bichinhos são transferidos para os viveiros de alevinagem, de onde saem após 30 a 60 dias, com no mínimo 5 centímetros de comprimento. Em seguida, vem a fase de crescimento, que deve contar com quatro a seis viveiros de 500 a mil metros quadrados. Os peixes permanecem entre 90 dias e um ano, período que depende do tamanho desejado para as vendas.
ÁGUA - apesar de ser um peixe pouco exigente quanto ao teor de oxigênio dissolvido na água, a carpa gosta de águas leves, com baixa concentração de sais. É imprescindível contar com boa disponibilidade de água de qualidade e com uma fonte que tenha vazão de, pelo menos, 2 litros por segundo.
ALIMENTAÇÃO - as larvas se alimentam de plâncton - pequenos animais aquáticos. Na segunda semana, já aceitam ração em pó como suplemento, o que evita canibalismo e agiliza o crescimento. Com um mês de vida e cerca de 2 centímetros de comprimento, pode ser oferecida ração granulada; a partir do terceiro mês e 5 centímetros de comprimento, consomem ração extrusada, que deve ser fornecida, duas vezes ao dia, na proporção de 3% a 5% do peso vivo.
REPRODUÇÃO - usa-se o processo de reprodução induzida para a obtenção de alevinos para comercialização, porém, a desova natural, que ocorre em geral entre a primavera e o início do verão, é o procedimento mais comum entre os produtores rurais. Embora possam atingir a maturidade sexual no fim do primeiro ano de vida, o melhor período reprodutivo ocorre entre o segundo e o quinto ano. Uma fêmea de apenas um quilo pode produzir ao redor de 100 mil óvulos e desovar até três vezes durante um mesmo período reprodutivo. Cordas de náilon desfiadas e amarradas podem ser utilizadas para servir como base para a aderência dos ovos, que eclodem três dias após a fecundação.

*Nilton Rojas é pesquisador científico do Instituto de Pesca, Caixa Postal 1052, CEP 15025-970, São José do Rio Preto, São Paulo, tel. (17) 3232-1777, niltonrojas@pesca.sp.gov.br
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