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terça-feira, 28 de julho de 2009

Cravo-da-índia



Pouco explorada por aqui, a especiaria tem na sua produção importante atividade sócio-econômica nas áreas de plantio

Texto João Mathias
Consultor Célio Kersul do Sacramento*


Chega o fim de ano e as comemorações são sempre com muita comida, desde as tradicionais às mais diferentes. Muitos aproveitam a época para experimentar uma nova combinação de receita, misturar o doce com o salgado, a fruta com a carne, ou ainda arriscar temperos que dão aquele toque a mais à refeição especial.

Mais usado em sobremesas, como doces caseiros de abóbora, mamão verde, cidra e de casca de laranja, o cravo-da-índia tem reservado seu lugar no período de festas e também como ingrediente ou item decorativo dos pratos principais. Aromático e de sabor ligeiramente amargo, o cravo-da-índia (Syzygium aromaticum L.) pertence à família das mirtáceas. É produzido por árvore de grande porte, que pode atingir até 15 metros de altura e durar mais de cem anos.

No Brasil, o cultivo comercial da planta está concentrado principalmente nas cidades de Valença, Ituberá, Taperoá, Camamu e Nilo Peçanha, localizadas na região do baixo sul do Estado da Bahia, além do município de Una, mais ao sudeste baiano. Os craveiros vão bem, sobretudo, em áreas próximas ao litoral até a altitude de 200 metros acima do nível do mar. Contudo, solos de baixada e alagadiços devem ser evitados. Os mais recomendados são os argilosos, profundos, de boa fertilidade e bem drenados.

Os craveiros atingem 15 metros de altura e duram mais de cem anos

Produzida na maior parte por pequenos agricultores, a cultura responde por importante atividade sócio-econômica onde está instalada. As vendas dos botões florais secos são destinadas para uso culinário, medicinal e de perfumaria. O cravo-da-índia é digestivo, antiinflamatório, cicatrizante e analgésico, além de contar com óleos essenciais que ajudam na eliminação de bactérias bucais e melhora do hálito.

Embora os botões possam ser colhidos manualmente, o método químico é o mais indicado por facilitar o processo. Com a aplicação de um produto que gera etileno, os botões florais são derrubados em três dias. Por isso, recomenda-se estender sob a copa dos craveiros telas tipo sombrite para a coleta. Por meio desse sistema, são colhidas de 60 a 80 plantas por dia, volume muito superior às 10 plantas realizadas pelo sistema tradicional.

RAIO X
SOLO: argilo-silicosos, profundos, férteis e bem drenados
CLIMA: temperatura média de 25 graus
ÁREA MÍNIMA: dois hectares
COLHEITA: a partir do quarto ano de plantio
CUSTO: 20 reais o quilo (de 300 a 400 sementes)
MÃOS À OBRA
INÍCIO - o cravo-da-índia é propagado por meio de sementes, também conhecidas como cravão. Podem ser adquiridas nas regiões produtoras de dois a três meses após a realização da colheita.
SEMEADURA - a semente germina melhor quando a polpa é eliminada. Para facilitar a retirada da polpa, mantenha o cravão em recipiente com água por 24 horas. Em seguida, coloque as sementes diretamente em saquinhos de polietileno preenchidos com mistura de terriço e esterco curtido. Mantenha o material sob sombreamento de 50% e irrigue com freqüência. De 10 a 15 dias é o tempo que leva para ocorrer a germinação das mudinhas.
PLANTIO - as mudas podem ser plantadas ao atingirem 30 centímetros de altura, o que ocorre de oito a 10 meses após a semeadura e nos meses mais chuvosos. Escolha as mudas mais vigorosas e bem formadas para o local de plantio, que deve ser sombreado durante os primeiros dois anos para proteger as plantas da incidência do sol.
AMBIENTE - regiões próximas ao litoral, com até 200 metros de altitude acima do nível do mar, são ideais para o plantio de craveiros. O bom desenvolvimento da planta também é beneficiado pelos ambientes com temperatura média de 25 graus, umidade relativa do ar não muito elevada e chuvas bem distribuídas acima de 1.500 milímetros.
ESPAÇAMENTO - as medidas utilizadas para o espaçamento entre plantas dependem da fertilidade do solo. As mais comuns são 8 x 8 metros e 10 x 10 metros. Recomenda-se tamanho de covas de 40 x 40 x 40 centímetros. Devem ser abertas e adubadas de 30 a 45 dias antes do plantio.
ADUBAÇÃO - a adubação deve ser feita de acordo com a análise do solo. Em geral, utilize 10 litros de esterco curtido de bovino e 150 gramas de superfosfato simples. Na Bahia, a aplicação que tem sido indicada, em cobertura, é de 200 gramas da fórmula 11-30-17 (NPK), e, a partir do quarto ano, aumentar a quantidade para 1 quilograma.
CUIDADOS - na fase inicial do cultivo, procure controlar plantas invasoras, por meio de coroamento e roçagem. Evite ainda a possibilidade de ataques de formigas, com a aplicação de formicida granulado ou em pó, e da broca do caule, com produtos específicos encontrados em lojas de produtos agropecuários.
PRODUÇÃO - quando o plantio é bem manejado, a produção inicia-se no quinto ano. A colheita ocorre de novembro a janeiro, mas pode variar de acordo com as condições climáticas do local de cultivo. Os botões florais devem ser colhidos quando apresentarem a cor rosada, antes da abertura da flor. No sistema manual, são utilizadas escadas para colher 40 quilos de cravos por dia, ou 6,5 quilos de cravo seco. Com a pulverização de ácido etilfosfônico, os botões florais caem entre o terceiro e o quinto dia após a aplicação. Como o produto não é tóxico, não causa danos à saúde humana nem ao meio ambiente.