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terça-feira, 28 de julho de 2009

Ginseng brasileiro



Muito produtiva, a planta é boa alternativa para pequenas propriedades. E há espaço no mercado para aumento da produção

Texto João Mathias
Consultor: Pedro Melillo de Magalhães*


O aumento do consumo de produtos naturais, associado à busca por maior qualidade de vida, tem estimulado o interesse pelos medicamentos fitoterápicos. Elaborados com espécies vegetais dotadas de propriedades medicinais, esses compostos beneficiam a saúde e favorecem o bem-estar de quem os consome. Uma das plantas mais utilizadas com essa finalidade é o ginseng (Panax ginseng), cujas raízes são hoje consumidas em pó, em cápsulas ou na forma de chá. E existe uma "versão nacional" dessa espécie cultivada há milhares de anos no Oriente: a Pfaffia sp., que ficou conhecida como ginseng brasileiro, devido ao formato e às qualidades de suas raízes, semelhantes aos da espécie original.

O cultivo do ginseng brasileiro tem muito espaço para a entrada de mais produtores, viabilizando um volume maior de produção da raiz. As áreas de plantio ainda são insuficientes para atender à demanda de outros países. O Japão, um dos principais compradores do produto nacional, principalmente a Pfaffia glomerata, adquire cerca de 30 toneladas da planta por mês, produzidas sobretudo na bacia do Rio Paraná, PR, e na cidade de Mogi das Cruzes, SP.

Com bom desenvolvimento em regiões de clima tropical, o ginseng encontra do norte ao sudeste brasileiro os locais mais adequados para o plantio. Embora mais raramente, pois não tolera ambientes de baixas temperaturas, o ginseng também é cultivado em estados mais frios, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Das 33 espécies espalhadas pela América Central e do Sul, 21 ocorrem em território brasileiro, principalmente em áreas florestais e campestres, beiras de rios e orlas das matas de galerias. Perene e de porte arbustivo, chega a atingir dois metros de altura, com caules eretos e delgados. A planta é ainda conhecido como corango, corrente, sempreviva e paratudo, e a ela são atribuídas propriedades energéticas, estimulantes e até afrodisíacas.

As qualidades do ginseng brasileiro, entretanto, concentram-se em suas raízes, que passam por um processo no qual são cortadas, secas e moídas.

RAIO X
SOLO: argiloso (de baixa a média intensidade) e de boa fertilidade
CLIMA: tropical ou subtropical úmido
ÁREA MÍNIMA: pode ser plantado em um canteiro de horta
COLHEITA: pelo menos um ano após o plantio, no fim do inverno
CUSTO: de R$ 0,50 a R$ 1, quando produzido por sementes
MÃOS À OBRA
A versão nacional do ginseng tem porte arbustivo e pode chegar a dois metros de altura
INÍCIO - é mais fácil encontrar mudas de ginseng brasileiro no centro-norte do país. Contudo, há viveiristas que vendem a planta em várias regiões. O melhor período para plantar no campo é do fim do inverno ao começo da primavera.
PLANTIO - o ginseng brasileiro apresenta bom desenvolvimento principalmente em solos com teor médio de argila e férteis, mas também vai bem em terrenos leves. Regiões de clima tropical ou subtropical úmido são as mais adequadas para o desenvolvimento da planta.
PROPAGAÇÃO - por meio de suas sementes férteis e germinativas, o ginseng brasileiro apresenta vantagem na propagação com o desenvolvimento de raízes pivotantes e grossas, tipo mais aceito no comércio da erva do que quando é propagada por estacas ou por cultura de tecidos. Nesse caso, o sistema radicular é em forma de cabelereira, o que resulta em raízes finas, embora mais uniformes.
ESPAÇAMENTO - plante a muda no topo das leiras, o que mais tarde facilitará a colheita das raízes encontradas próximas à superfície. Deixe um espaço de 0,5 metro entre plantas nas leiras e de 1,5 metro entre um sulco e outro. Em canteiros de horta, o plantio deve ser feito isoladamente, formando-se morrinhos de terra para facilitar a colheita.
CUIDADOS - a planta não exige muitos cuidados, a não ser alguma proteção no local contra ventos fortes. Pragas como ferrugem e nematoides podem atacar a cultura, mas ela apresenta-se bastante resistente a esses invasores. O cultivo de plantas repelentes próximo ao ginseng ajuda a inibir a presença das pragas. Também é recomendado o controle do mato na área de cultivo e, sobretudo, fazer irrigações regulares.
PRODUÇÃO - após um ano do início do plantio, as raízes do ginseng brasileiro podem ser colhidas. O mais recomendado é colher no fim do inverno. Elas podem ser arrancadas com um corte na base da leira e depois limpas com um jato d'água, para retirada de sobras de terra, no caso de solo muito argiloso.
SECAGEM - na etapa seguinte à lavagem, corte as raízes em pedaços de um centímetro cúbico ou em fatias de dois a três milímetros, para passar a planta pelo processo de secagem. Distribua bem os pedaços das raízes no secador e não deixe a temperatura passar dos 40 graus célsius.

*Pedro Melillo de Magalhães é pesquisador da divisão de agrotecnologia do CPQBA - Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Unicamp, Caixa Postal 6171, CEP 13081-970, Campinas, SP, pedro@cpqba.unicamp.br
Onde comprar: recomenda-se adquirir mudas formadas em viveiros próximos ao local de plantio; mudas de Pfaffia glomerata, em quantidades acima de mil unidades, podem ser encomendadas no CPQBA-Unicamp
Mais informações: Emater - Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, Rua da Bandeira, 500, CEP 80035-270, Curitiba, PR, tel. (41) 3250-2100; e Unesp - Universidade Estadual Paulista, Setor de Horticultura do Campus de Botucatu, CEP 18618-970, Botucatu, SP, Distrito Rubião Junior, tel. (14) 3811-6000