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segunda-feira, 15 de março de 2010

Drunkorexia:o perigo mora no copo


Estimuladas pelo forte desejo de se manterem magras, mulheres de todo o mundo estão substituindo suas refeições pelo consumo do álcool. Saiba mais sobre esse transtorno alimentar que oferece vários riscos à saúde e compromete a beleza

Patrícia Affonso
Fotos: Fabio Mangabeira

Fotos: Fabio Mangabeira

Quem está acompanhando a novela global Viver a Vida já deve ter prestado atenção ao comportamento de Renata (Bárbara Paz). O sonho de se tornar famosa faz da moça uma verdadeira paranoica com a boa forma e a beleza. Sempre preocupada com a imagem, dificilmente ela aparece se alimentando. Seus companheiros fiéis são os drinks, que já a fizeram protagonizar situações pra lá de desagradáveis. E se engana quem pensa que casos assim existem apenas na ficção. Tal comportamento caracteriza um problema cada vez mais presente nos consultórios médicos: a drunkorexia (ou alcoolrexia, em português). "Esses termos, que não existem na linguagem médica oficial, foram criados para denominar a combinação de alcoolismo e anorexia, distúrbio que faz com que a pessoa deixe de se alimentar, temendo o sobrepeso", explica Silvia Brasiliano, psicóloga e coordenadora do Programa de Atenção à Mulher Dependente Química (Promud), do Hospital das Clínicas (SP).

Inimigo disfarçado
Para os especialistas, um dos motivos que favorece o surgimento desse tipo de transtorno é a ditadura da beleza, que impõe padrões estéticos totalmente incompatíveis com a realidade das pessoas. Sendo assim, mulheres com a autoestima mal estruturada - que se importam muito com a opinião alheia e buscam seus objetivos com radicalismo e urgência -, tornam-se alvos fáceis da alcoorexia. A questão que causa mais estranhamento é o motivo (dentre tantas opções, como dietas, medicamentos e atividades físicas) de elas escolherem se aliar ao álcool na busca pelo corpo perfeito. "As bebidas alcoólicas, especialmente os destilados, reduzem um pouco o apetite. Para muitas pessoas, causam até uma certa sensação de enjoo diante da comida", afirma Celso Cukier, nutrólogo do Hospital e Maternidade São Camilo (SP). No entanto, essa não é a única justificativa. Há também quem faça o caminho inverso e deixe a comida de lado para poder desfrutar de alguns goles a mais. "Nesse caso, a paciente adota um sistema de compensação, substituindo as calorias das refeições pelas da bebida que vai ingerir. Assim, não estoura o limite calórico diário que determinou", explica Silvia Brasiliano.

Fotos: Fabio Mangabeira
O álcool é armazenado pelo organismo na forma de gordura - que se concentra, principalmente, na região abdominal

Fica claro que, para essas pessoas, o álcool é tido como um aliado do emagrecimento, que pode facilitar (e muito) o processo. A favor dele, muitas pacientes relatam, ainda, que ficam mais calmas depois de algumas doses e, assim, não descontam a sua ansiedade na alimentação. Acontece, porém, que em todas as situações descritas, a fama de bommoço não passa de enganação. Além do risco de tornar-se um vício, o consumo de álcool não funciona no controle da compulsão alimentar decorrente da ansiedade. É verdade que, em um primeiro momento, ele pode até gerar uma sensação de conforto e relaxamento. Mas seu próximo passo é deixar a pessoa angustiada, com um enorme vazio dentro do peito. E muita gente ataca a geladeira para acabar com o mal-estar. Lembra da expressão "o feitiço vira-se contra o próprio feiticeiro"? É bem por aí.

Na contramão da beleza
Se de forma isolada o abuso do álcool e a anorexia já comprometem a saúde, imagine só quando combinados. Isso sem falar que, se o intuito é esbanjar mais beleza e bem-estar, privar o corpo de alimentação (abastecendo-o apenas com bebidas alcoólicas) representa um grande erro.

"O álcool oferece ao corpo um tipo de energia de baixa qualidade, muito similar à do carboidrato de alto índice glicêmico, que favorece o ganho de peso", conta Celso Cukier. Trocando em miúdos, além de não fornecer o combustível necessário para o desempenho das atividades cotidianas, o álcool é armazenado em forma de gordura, especialmente na região abdominal. Mais uma vez ele mostra sua ineficácia na guerra contra a balança.

E os pontos negativos não param por aí. "Diante desse tipo de dieta, o organismo logo denuncia a carência de vitaminas e minerais essenciais para a realização de suas funções vitais. A pele também é prejudicada, pois perde a sua capacidade de renovação e cicatrização", pondera o nutrólogo. Precisa de mais motivos? Então a gente pergunta: quem é que gosta de ficar próximo de alguém que espalha um odor desagradável no ambiente? Ninguém, em sã consciência, não é mesmo? Essa é outra razão para não extrapolar na bebida. O álcool atrapalha o funcionamento do sistema gástrico e, por isso, pode causar mau hálito. A transpiração também ganha um cheiro mais forte. Urgh!

Alerta vermelho!
De acordo com o psiquiatra e psicoterapeuta Marcelo Niel, colaborador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Proadad), os portadores do distúrbio são, em sua maioria, mulheres solteiras, com idade entre 25 e 35 anos e perfil de alto nível sociocultural e de escolaridade. No entanto, pesquisadores canadenses levantaram que os primeiros sinais da drunkorexia costumam se manifestar ainda na adolescência, por volta dos 15 anos, quando se inicia a vida social de forma mais efetiva. "O problema é que essas pacientes só vão buscar ajuda depois de anos, quando a doença já está no auge", comenta Silvia Brasiliano.

O tratamento deve atuar em duas frentes: a reeducação alimentar, feita com o auxílio de um nutricionista, para ajudar a paciente a adotar uma alimentação mais saudável, e que a leve a construir um corpo correspondente à sua estrutura; e o acompanhamento psicológico, que vai trabalhar a questão do vício e dos anseios que estimulam a adoção de atitudes tão prejudiciais. "O processo é lento, leva em média dois anos", afirma Marcelo Niel.

Infelizmente, o comum é que as pessoas esperem vivenciar alguma situação social vexatória, como desmaiar em público ou vomitar, para só então procurar ajuda. "Se um amigo ou familiar diz que você está exagerando, é bem provável que esteja, mesmo. Para a mulher, a quantidade máxima considerada ideal é de 14 unidades de álcool por semana. Isso equivale, aproximadamente, a sete doses-padrão de destilados", destaca Marcelo Niel. E já é bastante, não? Se puder escolher, vá de vinho tinto. Ele possui substâncias antioxidantes e seu consumo moderado favorece a saúde.

Elas já passaram por isso...

Fotos: Fabio Mangabeira
Fotos: Fabio Mangabeira

Controle: uma questão de vida
Já está comprovado que o consumo exagerado do álcool expõe o organismo a diversos males. As pesquisas mostram, ainda, que os estragos se desenvolvem mais rápido no corpo feminino. Além do câncer, conheça outros

O culto exagerado à beleza e as festas regadas a álcool fazem da vida das celebridades o cenário perfeito para a o desenvolvimento da alcoolrexia. Conheça alguns casos que já foram destaque na mídia:


Malhando no seu ciclo
Em uma semana você se sente disposta e ágil. Na outra, a vontade de mexer o corpo sumiu. Isso pode ter a ver com as fases menstruais. Descubra como elas funcionam e adapte suas atividades a elas

Patrícia Affonso
Foto: Danilo Borges

Quem pratica atividade física sabe o quão prazeroso esse hábito pode ser. A gente se sente mais disposta, motivada e competitiva. Às vezes, nem mesmo existe um oponente do outro lado, como é o caso da academia. Mas só o fato de testar os próprios limites e ultrapassar barreiras já vale muito. Mesmo cientes de todos os benefícios - físicos e psicológicos - proporcionados pelo esporte, há dias em que a coisa simplesmente não rola. A vontade de levantar da cama e dar início às atividades não aparece e quando insistimos e declaramos guerra à indisposição, o resultado deixa a desejar. Não conseguimos nos concentrar, as repetições tornam-se cansativas e, assim, acabamos jogando a toalha mais cedo. Mas vá com calma no julgamento. Antes de se culpar, vale saber: nem sempre se trata de preguiça, pura e simplesmente. Você sabia que as oscilações no rendimento esportivo podem ter relação direta com as fases do ciclo menstrual? "As alterações hormonais, os sintomas físicos e psicológicos provenientes da menstruação, tudo isso pode influenciar no desempenho durante as atividades físicas", afirma José Bento de Souza, ginecologista e obstetra do Hospital Albert Einstein (SP).

Para ajustar a rotina de acordo com essa delicada relação é importante entender o que acontece com seu corpo em cada fase do ciclo menstrual. Dessa forma, é possível programar atividades que caem bem para cada momento, evitando desgastes e as implacáveis cobranças pessoais. Acompanhe!

e quem utiliza anticoncepcional?
Essa montanha-russa de emoções e reações físicas, geralmente, não ocorre para as mulheres que fazem uso de métodos contraceptivos hormonais. "O anticoncepcional inibe as alterações de estrógeno e progesterona", conta José Bento de Souza. Se esse é o seu caso e, mesmo assim, você sente com muita intensidade os incômodos, especialmente no período pré-menstrual, o ideal é procurar um especialista que poderá indicar outro medicamento, que se adapte melhor ao seu organismo.

Fase 1: Durante a menstruação
Esse período se estende do 1º ao 4º dia do fluxo menstrual. Para muitas mulheres, o início do sangramento representa também um alívio. "É quando os sintomas desagradáveis, que acompanham a mulher nos dias anteriores à menstruação, diminuem significativamente ou até desaparecem", explica Eliana Zucchi, médica do ambulatório de ginecologia do esporte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Com isso, a mulher se sente mais apta à prática de exercícios. É o início de uma melhora gradual no rendimento. "Pesquisas apontam que, durante a menstruação, cerca de 70% das mulheres apresentam uma boa performance", aponta Junior Crocco, personal trainer da Body Systems Latin America. Mas como quando o assunto é o universo feminino as particularidades são muitas, nem sempre essa fase é tão tranquila. Acontece que, para evitar uma perda excessiva de sangue, nosso organismo produz, nesse período, uma substância chamada prostaglandina, que provoca contração uterina. "Em algumas mulheres, ela pode causar dor, náuseas e diarreia. Isso, obviamente refletirá negativamente nos esportes", alerta José Bento de Souza. Quem tem o fluxo muito intenso também deve ficar atenta. Perder muito sangue pode causar anemia e fraqueza.

em quais modalidades apostar?
Com a melhora dos estados físico e psicológico, a mulher se sente disposta a realizar qualquer tipo de exercício com o qual tenha afinidade. No entanto, o sangramento causa certo desconforto em algumas, que preferem evitar as atividades de longa duração. "São boas pedidas as atividades aeróbicas, que proporcionam bem-estar, além de práticas que trabalhem a musculatura do assoalho pélvico, como alongamento e pilates. A única ressalva é evitar atividades muito intensas nos períodos de cólica", sugere Ana Paula Soares de Oliveira, coordenadora de ginástica da Fórmula Academia, unidade Morumbi (SP).



Malhando no seu ciclo
Em uma semana você se sente disposta e ágil. Na outra, a vontade de mexer o corpo sumiu. Isso pode ter a ver com as fases menstruais. Descubra como elas funcionam e adapte suas atividades a elas

Patrícia Affonso

Fase 2: Período pré-menstrual
Eis aqui uma fase que as mulheres conhecem muito bem e pela qual a maioria não sente a menor simpatia. E não é sem motivo: é nesse período, que vai do 23º ao 28º dia, que acontecem as alterações hormonais que causam os desagradáveis sintomas da TPM. "Isso ocorre porque os níveis de estrógeno caem e começam a subir os de progesterona, hormônio que prepara o útero para a fecundação e as glândulas mamárias para a amamentação", explica Eliana Zucchi. É aí que aparecem os incômodos, físicos e emocionais: retenção de líquidos, distensão abdominal, dores musculares e articulares, mamas sensíveis, prisão de ventre, irritabilidade, ansiedade, baixa concentração, insônia... Ufa! Não é de se admirar que nesse cenário ocorra a pior performance da mulher na área esportiva. "O período progestacional, como também é chamado, é marcado por um momento de resguarda da mulher. Ela está se preparando para uma (possível) gravidez. É natural, então, que fique mais contida, sem pique para a agitação", comenta o ginecologista José Bento de Souza.

em quais modalidades apostar?
Nessa fase, a palavra de ordem é a moderação. "A resistência e até mesmo a paciência ficam menores. Portanto, recomendo cargas mais leves e exercícios de menor duração", avisa Junior Crocco. Práticas que proporcionam relaxamento, como ioga, alongamento e hidroginástica, são as mais indicadas. A caminhada é outra boa opção, já que proporciona tranquilidade e bem-estar.

Fase 3: Período pós-menstrual
Vai do 5º ao 22º dia do ciclo e também é chamado de fase estrogênica. É nesse período que o nível do hormônio feminino estrógeno começa a aumentar. "Outro processo importante dessa fase é a ativação da glândula suprarrenal, que provoca maior secreção de noradrenalina. Essa substância é responsável pelo aumento do metabolismo corporal, além de proporcionar energia e disposição", esclarece Páblius Staduto Braga da Silva, reumatologista especializado em medicina do esporte, do Hospital 9 de Julho (SP). Graças a esses estímulos, a mulher alcança nessa fase o ápice de seu rendimento. Segundo José Bento de Souza, a explicação está nos nossos instintos mais primitivos, nesse caso, a necessidade de procriação. "É quando se encerra o ciclo menstrual que a mulher se prepara para uma nova tentativa de procriar. Então, ela sai à procura de um macho para fecundá-la, está mais agressiva, mais competitiva, quer se mostrar. Isso ocorre com todos os animais", diz.

em quais modalidades apostar?
Com disposição, o corpo e o estado emocional em ordem, a mulher não encontra dificuldades para realizar nenhum tipo de atividade física no período que sucede a menstruação. "Essa fase é propícia para os exercícios com maior carga e duração", ensina o personal Junior Crocco. Atividades de resistência como natação, corrida, ciclismo e triátlon e esportes de competição também são favorecidos por esse período. E fica mais fácil se relacionar com o grupo e ouvir as orientações do personal ou técnico da equipe.