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domingo, 14 de junho de 2009

130 m² de madeira e alvenaria em Paraty


Em sucessivas visitas à região de Paraty, um engenheiro paulista encontrou o lugar perfeito para passar os verões: construiu uma casinha à moda caiçara e foi acolhido pela comunidade de pescadores.

Por Eliana Medina e Joana L. Baracuhy
Fotos: Carlos Piratininga

Apesar de ser um velejador entusiasmado, o engenheiro paulista Silvio Barana só conheceu esta ilha perto de Paraty, RJ, quando assumiu um trabalho ali, em 2004, e passou a visitar o lugar regularmente. Não deu outra: ele e a mulher, a arquiteta Bea Brown, caíram de amores pelas águas serenas da baía e a companhia dos pescadores. Animado para erguer ali sua casa de veraneio, Silvio constatou que um terreno no outro lado da ilha, "onde ficam os casarões e os famosos", brinca ele, sairia caro demais. Mas uma área perto da vila, com uma pequena moradia, estava de bom tamanho. Convencer o proprietário – e o líder da comunidade –, a vender a terra para um forasteiro exigiu paciência. Mas a convivência e os gestos de delicadeza derrubaram as resistências. Bea então projetou uma casa nova no lugar da antiga, com o mesmo ar caiçara, e mais conforto. Na época da obra, Silvio alugou um imóvel na vila para alojar os trabalhadores de sua construtora e acertou o frete de materiais com um barqueiro conhecido. "O mar calmo permitia o transporte a qualquer hora, o que ajudou a concluir a construção em três meses", diz ele. Um casal espanhol também se apaixonou por um refúgio praiano. Só que em Itacaré, na Bahia. Conheça essa história.
A casa investe na proximidade com a natureza, o que se nota pelo deck que avança no mar. Tanto o piso da varanda como o telhado têm aberturas pontuais por onde as árvores atravessam – tudo para que não fosse preciso cortá-las.
Em inúmeras visitas, Silvio ficou conhecido na região e, aos poucos, ganhou a simpatia e a confiança da comunidade – arisca a forasteiros. Durante sua obra, ele cedeu material e mão-de-obra para restaurar uma construção onde as mulheres da ilha descascam camarão. "Não ergui a casa e depois fiquei alheio às questões locais. Estamos perto do pessoal da comunidade", conta Silvio.
Tanto a cobertura como o deck empregam materiais usados, vindos de um depósito mantido pela construtora de Silvio.
São peças grandes de peroba-rosa, cumaru, ipê e eucalipto cortadas em réguas de 5, 7 e 10 cm e telhas de barro do tipo paulistinha. "Como a obra foi rápida e intensa, eu e a Bea íamos até duas vezes por semana a Paraty para acompanhar os trabalhos", diz Silvio.
Sala e cozinha dividem um balcão. A pia reutiliza um tampo de mármore piguês estocado pelo engenheiro. A bancada para lanches aproveita restos de madeira, laminada e colada, serviço executado pelos carpinteiros da construtora. Repare no forno de pizza e na lareira (kits pré-fabricados de concreto). Com eles, a família aproveita a casa mesmo no frio ou de noite. Redes da Kariri e futons da Futton Company.
No cimentado do piso, o engenheiro aplicou a seguinte mistura: três partes de pó de mármore, uma de cimento estrutural branco e cerca de 15% do peso do cimento em pigmento azul Pó Xadrez (Lanxess). "O mármore evita a aparição de trincas", explica Bea. Armários e prateleiras são de alvenaria para maior praticidade. Levam tinta acrílica Metalatex Bacterkill (Sherwin-Williams), que protege de fungos e mofo.
O forro pintado de branco realça o madeiramento do telhado.
Simples, a construção associa estrutura de madeira (pilares, vigas e tesouras de angelim-pedra, de 20 x 20 cm, comprados na região) a paredes de alvenaria. Fica na posição da moradia antiga, mas, toda refeita, agora tem fundações sobre as pedras do terreno e fossa séptica. A área construída é de 130 m2 (varanda coberta e casa). O grande diferencial é o espaço aberto. Contando com o deck, a casa dispõe de 174 m².
As portas-balcão e as janelas foram confeccionadas pelo marceneiro Geraldo Gama, de Paraty, seguindo a tradição colonial. Na pintura, um tom praiano: esmalte sintético brilhante verde-abacate (Tintas Coral). Os caixilhos, com vidro e tela mosquiteira, e os batentes receberam stain (Polisten incolor, da Tintas Renner), assim como todas as demais madeiras.
Só algum tempo depois de concluída, a casa ganhou um ancoradouro flutuante, garantia de acesso independente. O guarda-corpo com rede de proteção também ficou pronto nessa época. "É gostoso deitar sobre ele para tomar sol, repousar, ver a mata e o mar", diz Bea.