A TV serve a sala e o quarto graças à abertura (75 x 97 cm) entre os dois ambientes feita pelo pedreiro José Pereira de Souza. Ali, o marceneiro José Francisco Sá, tio da moradora, instalou um prato duplo de metal comprado em lojas de ferragens – próprio para garantir o giro seguro da tela, pois uma chapa fica parafusada na base inferior do nicho e a outra se mantém livre. No arremate, o marceneiro emoldurou o aparelho com um cubo de MDF – mesmo material aplicado nos contornos do vão. Os fios e cabos saem por um duto ligado à tomada do quarto. Por fim, a sala ganhou outro nicho (55 x 50 cm) com placas refratárias para a lareira a gás e acabamento de filetes de pedra com assentamento canjiquinha.
Junto à alvenaria, o pedreiro montou uma parede de gesso comum com nichos retangulares de 18 cm de profundidade. Durante o serviço, ele embutiu os fios dos spots para a ligação das dicróicas. Em busca de mais luz para o corredor, a porta de compensado do quarto tem um rasgo de 0,05 x 1 m preenchido com vidro opa
Território de invenções
O preto tingiu de ousadia uma das paredes do living e valorizou o acervo de arte contemporânea reunido por Angela (ao lado da pequena Fernanda) e seu marido. Provocante, o tom sublinha a originalidade dos detalhes e dá asas à imaginação. Em sua casa, a máxima é inovar. Vale até colocar sofás lado a lado para permitir o jogo de formas das mesinhas de centro.
• Uma mistura de gravuras, fotos e desenhos compõe quatro arranjos encantadores.
Memória valorizada
Instalado em um charmoso prédio de seis andares em Belo Horizonte, este apartamento, de 160 m2, tem histórias doces para contar. Refúgio dos publicitários Angela e Marcone e da pequena Fernanda, o lugar foi cenário da infância da proprietária ao lado dos pais e da irmã, a arquiteta Andrea Buratto, que ficou encarregada da reforma para criar uma atmosfera mais moderna. A decoração respeitou as lembranças queridas sem esquecer os toques de ousadia e o espaço para as peças de arte garimpadas pelo casal em viagens no Brasil e no exterior. Mas o grande desafio era atender às expectativas dos moradores sem promover nenhuma mudança estrutural aguda. Na reforma, o taco original do piso foi recuperado, o pé-direito alto, mantido, e um dos três quartos, integrado à sala para receber o home theater. Alvo das mudanças, paredes da suíte e do living ganharam pinceladas de preto fosco. "É um projeto inovador em que o antigo se entrega ao novo sem resistência", conta a arquiteta.
Magnetismo visual
A escolha de peças significativas e da cor forte nas paredes garante a um só tempo o clima contemporâneo e cheio de personalidade que permeia cada canto do apartamento. O preto, é claro, traz molho especial aos ambientes e responde pelo sucesso da decoração, inclusive na suíte do casal. Na cabeceira da cama, imprime elegância e emoldura mais uma vez a paixão visceral dos moradores por arte. Sem medo de carregar no tom nem na área íntima, a arquiteta se valeu de uma composição harmoniosa em que o preto e o branco das paredes contracenam com móveis e piso de madeira clara, sempre à vista. "A idéia era oferecer aconchego, mas fugir do convencional", diz Andréa. Objetos e livros deixados à mão arrematam o ar descontraído. Nessa volta às origens, a publicitária encontrou conforto emocional e segurança - o clima ideal para ver a pequena Fernanda e os gêmeos que estão a caminho crescerem. "Aqui, minha história se mistura à de meu marido e à de meus filhos", afirma Ângela.
Cadeira de balanço
Toques de cor
Presente na decoração como há tempos não se via, a cor conquistou todos os cantos da casa, das paredes à roupa de cama. E o melhor: existem opções para vários gostos, como garantem os escritórios internacionais de tendências. "No último Salão de Milão, os designers abraçaram cores como o amarelo, o azul, o vermelho e o fúcsia", afirma Sally Lohan, do site inglês WGSN (Worth Global Style Network). Mas, para além das fronteiras da Itália, a busca é por tudo o que remeta à natureza. "A preocupação com o meio ambiente se traduz nos tons da água e da madeira, que transmitem segurança e bem-estar", diz Sabina Deweik, do Future Concept Lab, um instituto sediado em Milão. Daí a força de azuis e marrons, seguidos de perto pelos verdes. "Tonsque despontam na esteira das discussões sobre a sustentabilidade", reforça Elisabeth Wey, presidente do Comitê Brasileiro de Cores. Veja a seguir como três profissionais se serviram dessa farta cartela.O romantismo do lavanda
Como quase todo estreante no assunto, a modelo Michela tinha certo receio de usar qualquer tom em seu primeiro apartamento, de 66 m2. "Desde o início, quis que a base fosse inteiramente branca. Assim, eu poderia trazer a cor aos detalhes sem me arrepender", conta. Depois de três meses morando cercada de paredes e móveis claros, Michela finalmente conseguiu definir uma tonalidade na qual apostar: o lavanda. "Partimos desta cor na parede principal da sala para compor o resto da decoração", diz a arquiteta Cristina Bozian, responsável pelo projeto. O entorno neutro permitiu que a profissional criasse uma brincadeira lúdica de estampas e nuances estimulantes de rosas, roxos e amarelos. "Nos inspiramos também em balas coloridas para evocar um visual divertido, feminino e pop."A surpresa do do verde - pistache
Uma cor pode fazer mais do que dar personalidade a um ambiente. Para o designer de interiores Francisco Cálio, ela pode reviver uma época. É o caso do pistache, que veste as poltronas Womb (Eero Saarinen), estrelas da decoração deste apartamento de 160 m². "Muito usado nos anos 1960, este verde enfatiza o ar retrô da peça, desenhada em 1947", diz. A solução foi uma forma de subverter um pouco o visual contemporâneo e sóbrio da primeira casa de umjovem profissional do mercado de finanças. "Queria viver num lugar confortável e moderno, com uma cara bem masculina", conta o morador. Depois de algumas entrevistas e muita conversa, Cálio chegou à cartela principal que iria compor cada canto, da sala ao quarto: verdes e fendis, cinzas, preto e branco.Na mesade trabalho, está a luminária da Lumini.Abaixo, você vê a cadeira vermelha da Micasa e as obras de Shirley Paes Leme e Abraham Palatnik (Galeria Nara Roesler).
Nuances bem orquestradas
Ainda que bem definida, a paleta masculina pedia pontos de fuga e surpresa para o olhar. Foi quando Cálio resolveu empregar detalhes de vermelho e amarelo na decoração. "O contraste é superimportante para harmonizar a cartela de cores. Pontualmente, esses dois tons contrabalançam o verde predominante, que foi nossa referência inicial na poltrona", explica Cálio. Outra medida que enfatiza a sensação de equilíbrio é a repetição das tonalidades em todos os cômodos da casa. Um exemplo está no tapete escuro: feito de náilon, o mesmo modelo aparece no quartoe na sala. Até a roupa de cama ecoa a composição de nuances proposta. "Considerar o conjunto e manter a coerência ajuda a não errar a mão. Por isso, gosto de montar uma cartela de amostras e segui-la à risca."
As poltronas verdes da Micasa ganharam destaque em contraste com o entorno escuro criado pelo tapete de náilon (Micasa) e pela estante (Bontempo). Multiúso, ela mistura biblioteca, bufê e bar, já que também guarda taças e louças que servem à sala de jantar anexa. Sofá da Micasa e almofadas da Esther Giobbi.
Jogo de azuis e vermelhos
Bules de chá chineses e japoneses, marionetes da Birmânia e imagens africanas criam uma rica profusão de cores e sotaques no apartamento de 400 m² de uma designer, que adora colecionar objetos trazidos de viagens. "A preocupação da decoração era coordenar as diferentes influências de forma harmoniosa, sem perder o foco", afirma a decoradora Guta Calazanns. Nesse ponto, foi fundamental a definição de uma cartela precisa de tons sóbrios, estabelecida sobre uma base discreta. "Na reforma, priorizamos uma arquitetura de visual contemporâneo e monocromático. Por isso, usamos o branco nas paredes e em móveis extensos, como a estante." Feita de chapa de ferro pintada, ela quase desaparece no ambiente, fazendo com que livros e coleções pareçam flutuar.O vermelhoqueimado é o tom realçado na sala de jantar, que também funciona como biblioteca. Ele veste os sofás da mesa inglesa, uma herança de família da moradora. É uma cor que aquece e faz querer permanecer mais tempo no ambiente, diz Guta. Vaso com rosas da Cá d’Oro. A coleção de livros e bules de chá chineses e japoneses ganhou destaque sobre a estante de chapas de ferro com pintura eletrostática, de 5 x 2,10 m de altura (Janos Biezok Serralheiro).
Marionetes da Birmânia, expostas sobre totens de acrílico.
Na sala de estar, a tela de Walter Contreras (Pateo Capannema) é o foco. Seus tons se desdobram sobre poltronas e almofadas (Pateo Capannema e Empório Beraldin), criando um contraste com a base marrom composta do sofá (Equanon), do piso de cumaru e do tapete de palha (Cor e Forma). Mesa de centro e abajur da Juliana Benfatti Antigüidades.
A parede do corredor exibe aquarelas pintadas pela moradora, além de uma coleção de máscaras e imagens trazidas da África e da Ásia.
Mistura busca o equilíbrio
Tudo o que é visto primeiro e está em maior proporção na decoração também ganhou uma tonalidade neutra, como o marrom, o bege e suas variações. "Chamo essas peças de os grandes volumes. É o caso do sofá, do tapete e do piso", define Guta. A partir daí, chegaram os azuis discretos das almofadas e poltronas. "Montar uma cartela de cor é como equilibrar a temperatura do ambiente: aqui, o azul, que é frio, ilumina os tons quentes e aconchegantes, que lembram a cor do tijolo." Assinada por Walter Contreras, a tela acima do aparador enfatiza a escolha e reforça a paleta. Nem mesmo o corredor fugiu da regra. Apesar de todo branco, esse espaço ganhou ares de tenda com o sári indiano vermelho preso por ilhoses em ganchos no teto. "O pano difunde a luz e traz a cor de forma suave", explica Guta.