Apesar de envolta em tapas, jamón y mucho portuñol, quando estava em Madri lembrei que a quinta-feira passada – a quarta do mês de novembro – era Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. O Thanksgiving inaugura para os americanos a holiday season, que vai até o Ano Novo. Para eles, é nesse dia, e não no Natal, que dez em cada dez famílias levam à mesa um enorme peru assado.
Lembrei também que ainda outro dia mencionei por aqui o excelente América – A História e as Contradições do Império, livro em que meu ex-professor Voltaire Schilling, entre outras milhares de informações curiosas, conta a passagem histórica que originou esse feriado e suas tradições.
O que aconteceu foi que os colonos ingleses que chegaram à América a bordo do navio Mayflower em 1620 só escaparam de morrer de frio e de fome porque foram recebidos pelos indígenas locais, que lhes deram abrigo e comida – especialmente perus selvagens e milho cozido. Por isso é que até hoje os americanos (que são extremamente orgulhosos da história do país, para o bem e para o mal) reúnem suas famílias para repetir o cardápio e recordar as dificuldades daqueles que fundaram a nação.
Isso é algo que me fascina na gastronomia. A História pode ir e vir, construir e destruir, pode ser pessoal ou mudar a cara do planeta: em algum lugar, tem sempre um prato de comida como protagonista.
