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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Milho é bom, sô!

O grão é rico em vitaminas, ferro, potássio e fibras, além de contribuir para retardar o envelhecimento


por Rodrigo Gallo


PRODUÇÃO MARCIA ASNIS / FOTO JUCA VIEIRA
Cultivado há mais de 7 mil anos, o alimento é bastante consumido em forma de farinha

Se você é daqueles que só come milho (Zea mays) em época de Festa Junina, saiba que está perdendo uma ótima oportunidade de melhorar a saúde. O grão, que poderia ser incluído com mais ênfase no cardápio do brasileiro é rico em nutrientes que ajudam na prevenção de catarata, câncer e até mesmo de doenças cardiovasculares.
E, embora poucas pessoas conheçam a importância do alimento, que é cultivado nas ilhas do Golfo do México há mais de 7 mil anos, vale a pena incluí-lo no cardápio. Pena que o Brasil ainda esteja longe disso. O país é um dos maiores produtores de milho do continente, mas boa parte da safra é destinada à alimentação animal. Segundo estimativas da Associação Brasileira das Indústrias do Milho (Abimilho), a nação produziu quase 41 milhões de toneladas do grão em 2007. De acordo com a União Brasileira de Avicultura (UBA), menos de 15% deste total foi destinado ao consumo humano.
Além disso, normalmente o alimento chega aos consumidores de forma indireta, por meio da farinha de milho – opção para quem possui doença celíaca, pois não contém glúten. Um dos motivos que justifica isso é a cultura alimentar brasileira: nas refeições, as pessoas preferem privilegiar outros tipos de grãos mais populares, como arroz e trigo (principalmente por meio do pão francês).
Deixá-lo de lado é abdicar de inúmeros nutrientes, como as vitaminas A e do complexo B. Elas, explica a nutricionista Eliana Cristina de Almeida, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), protegem o globo ocular e ajudam na digestão, respectivamente. Além disso, o alimento também é rico em fibras, importantes para o bom funcionamento da flora intestinal.
Muitos povos do passado, aliás, já sabiam desses benefícios à saúde. Tanto que, na Antigüidade, o grão fazia parte da alimentação de astecas, olmecas, maias e incas, na América Pré-Colombiana. O próprio nome deriva de uma palavra de antigos idiomas, que significava “sustento da vida”.
Para se ter idéia, apenas 50 gramas de farinha de milho fornecem a mesma quantidade de proteínas que um pão francês com o mesmo peso, com a diferença de ter 33% a mais de calorias, ou seja, sustenta mais, porém, se consumido em excesso pode engordar. Então, seja moderado: comer uma bandejinha de cereal matinal à base de milho de manhã já ajuda a manter a saúde mais equilibrada.

Pamonha doce
INGREDIENTES
12 espigas de milho verde
1 xícara e meia de açúcar
1 colher (sopa) de manteiga em temperatura ambiente
1 pitada de sal
1 xícara de coco ralado

PREPARO
Retire a palha e o cabelo das espigas. Em seguida, rale-as e passe a massa em uma peneira. Após o alimento peneirado, adicione o açúcar, o coco, o sal e a manteiga. Coloque a pasta em duas palhas sobrepostas. Amarre e leve as trouxinhas para cozinhar em uma panela com água fervente e coloque-as uma a uma. Quando a palha ficar amarelada estará pronta.

RENDIMENTO
12 pamonhas

Bolo de milho
INGREDIENTES
2 copos americanos de leite
1/2 copo de óleo de milho ou canola
3 ovos
2 copos de farinha de milho granulada
1 copo de queijo meia-cura ralado
50 g de coco ralado
1 copo americano de açúcar
1 colher de sopa de fermento em pó

PREPARO
Bata o leite, óleo, açúcar e os ovos no liquidificador, até que a mistura fique homogênea. Acrescente o queijo e bata de novo. Coloque a farinha de milho e o coco ralado e, mais uma vez, volte a bater. Adicione o fermento e misture com uma colher. Após untar uma forma, coloque a massa nela e leve a um forno pré-aquecido em temperatura média. O bolo estará pronto entre 35 e 40 minutos.

RENDIMENTO
Dez pedaços


O alimento nutre o globo ocular e ainda ajuda na digestão

IDEAL PARA O DIA-A-DIA
Bastante consumido em países como Estados Unidos e na Europa, o grão se encaixa bem no cardápio diário. Pratos típicos são preparados com base na farinha de milho, como cuscuz, polenta, angu e mingau, por exemplo. Ainda não está convencido? O cereal contém boas quantidades de ferro, composto que atua na formação da hemoglobina, glóbulo vermelho que transporta o oxigênio para os pulmões. E a lista de minerais não pára por aí: fósforo, potássio e zinco também estão presentes no milho. “Por conter alto valor nutricional, deveria ser consumido com mais freqüência, mesmo em forma de farinha, pois é um excelente complemento alimentar”, conta a nutricionista Izilda Georgia Rossi.

ATÉ A CASCA É BOA
Segundo a nutricionista Márcia Laura Cabrerizo, ao contrário do trigo e do arroz, que são refinados durante o processo de industrialização, o milho conserva a casca. E isso é excelente, porque é nela que estão os maiores nutrientes do grão. Lá estão boa parte das fibras, substâncias essenciais para a eliminação de toxinas do corpo. Elas também são importantes para “a manutenção do bom funcionamento do intestino, servindo como um remédio natural para combater a prisão de ventre”, explica Márcia.

CEREAL PODEROSO
Segundo a American Dietetic Association (ADA), o grão possui na composição duas substâncias chamadas zeaxantina e luteína. Pesquisas elaboradas pela entidade comprovaram que esses nutrientes, também encontrados na laranja, ajudam a prevenir problemas de catarata e degeneração macular. O cereal, portanto, faz bem para os olhos. Ainda assim, o principal benefício do alimento para a saúde está associado ao câncer. “Esses compostos também controlam os riscos de desenvolvimento de tumores e doenças cardiovasculares, devido à atividade antioxidante”, revela Izilda.

Sobre o milho

No Brasil, a venda do vegetal tem força principalmente no caso dos enlatados, que são utilizados, sobretudo, em saladas ou pizzas (cuidado com o sódio, inimigo do coração). Além disso, no entanto, as grandes empresas de distribuição oferecem o alimento na espiga, que é destinado à produção de curau ou pamonha, segundo o Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo da Embrapa, órgão ligado ao governo federal.
Do ponto de vista nutricional, o milho é riquíssimo em cálcio, entre outros minerais. No contato com o fogo (pipoca), parte dos nutrientes são perdidos.
Outra função importante do milho à alimentação diária: dele, os produtores conseguem extrair a farinha de milho e fubá, utilizados para o preparo de pratos típicos brasileiro. Ambos são ricos em amido, polissacarídeo que ajuda a fortalecer o sistema imunológico.
O ideal é que as substâncias encontradas no milho façam parte do cardápio, mesmo que seja de forma indireta, como na polenta ou na pamonha caseira.

O alimento nutre o globo ocular e ainda ajuda na digestão

Para ter um efeito mais significativo, a ADA recomenda que as pessoas adquiram o hábito de consumir diariamente dois copos de frutas com milho (a combinação pode conter uvas, kiwi, manga e melão, por exemplo, batidos no liquidifi- cador, da forma como preferir).
E sabe aqueles fiapinhos marrons, conhecidos como “cabelos do milho”? Até lá o vegetal reserva nutrientes: é repleto de cálcio, potássio, proteínas e fósforo. Tudo isso dá energia ao corpo e ainda deixa as células e o sistema nervoso em perfeito funcionamento. Ah, vale um aviso: evite o consumo de milho enlatado por conta do teor de sódio, um dos maiores vilões para o coração.

JOVEM POR MAIS TEMPO
Um estudo elaborado pela Rede Nacional de Pesquisa do Envelhecimento da Espanha, que contou com a participação de pesquisadores do Instituto de Biotecnologia de Universidade de Granada, revelou: o consumo de milho, associado a cerejas, aveia e vinho tinto, retarda os efeitos da idade no organismo. A razão é que esses alimentos têm um alto teor de melatonina, substância produzida em pequenas quantidades pelo corpo que tem propriedades antioxidantes e atrasa a degeneração neuronial. Além disso, o grão também contribui para adiar os processos inflamatórios naturais do envelhecimento, portanto, ajuda a manter o corpo jovem por mais tempo.
Para se ter idéia, os primeiros sintomas de envelhecimento nos tecidos celulares começam a surgir após os 30 anos. Nesta época, registra-se um aumento considerável na produção de radicais livres, compostos que afetam a saúde das células, deixando-as mais frágeis.
A melatonina, segundo os pesquisadores, pode neutralizar os efeitos dessas substâncias, aumentando a resistência da pele e também a longevidade. Ponto para o milho: quem o consome diariamente pode permanecer jovem por mais tempo. Mas lembre-se: o ideal é consultar um especialista para montar um cardápio nutricional mais adequado, pois o grão também pode engordar, se ingerido em excesso.
Uma curiosidade: o milho, quando estourado e transformado em pipoca, também é rico em nutrientes, pois a parte interna vira uma massa branca e crocante com muito amido e fibras. O suco e o sorvete do grão também valem para nutrir e, no calor, refrescar a sede.

Consumo baixo

De acordo com o Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (CNPMS), ligado à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a produção de milho no Brasil tem crescido a uma taxa média de 3% ao ano, enquanto a área cultivada aumenta 0,4% a cada 12 meses. Apesar do País ter produzido cerca de 41 milhões de toneladas em 2007, o consumo ainda é baixo, se comparado com outras nações. No México, cujas características socioeconômicas são semelhantes às daqui, o consumo de milho per capita chega perto de 63 quilos. No Brasil, entretanto, os brasileiros “empacam” nos 19 quilos, apesar de ser um dos principais produtores do mundo. Atualmente, os Estados Unidos são os maiores produtores de milho do mundo. O produto, por lá, é associado ao vasto consumo de pipoca.