A frutinha é capaz de espantar tumores, regular as taxas de colesterol, diminuir pressão, afastar o envelhecimento da pele e transformar o corpo em um escudo antiinfecções
por Pamela Leme
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Estudos recentes têm comprovado o que os povos lááá da Antigui- dade já haviam percebido: vinho tinto e suco de uva, além de saborosos, são importantes em uma dieta sau- dável. Atualmente, os cientistas desvendam os poderes de dois antioxidantes presentes em abundância na fruta capazes de fazer maravilhas ao corpo.
O primeiro é o resveratrol, fitoestrógeno (ou hormônio natural) que pode ajudar a diminuir os níveis do mau colesterol (LDL) e aumentar os do bom (HDL) - o LDL é o principal responsável por causar a obstru- ção dos vasos sanguíneos. Daí o efeito des- se composto químico de extrema proteção cardiovascular e até, como afirmam alguns cientistas, anticancerígeno.
ESCUDO CONTRA O CÂNCER
A substância afasta o organismo dos radi- cais livres, moléculas instáveis que danifi- cam as células quando as defesas baixam a guarda. "Tumores dependentes de hor- mônio [mama, próstata, cólon e pulmão] podem ser prevenidos pela ingestão diária de quantidades apropriadas de fitoquímicos como os da uva", afirma a nutricionista e farmacêutica bioquímica Lucyanna Kalluf. Segundo a especialista, o resveratrol tem estrutura química semelhante à do estró- geno sintético, e uma das causas do apa- recimento de tumores está ligada à perda desse hormônio. "A incidência de câncer de mama em países ocidentais é seis vezes mais alta em comparação às mulheres asiá- ticas, que consomem diariamente produtos de soja ricos em fitoestrógenos", aponta. Inclusive, a substância garante ainda ação antienvelhecimento, "porque protege a pele dos danos causados pela exposição à radiação ultravioleta", comenta a especia- lista. Ele ajuda até mulheres na menopau- sa, já que manda os terríveis fogachos para bem longe Ainda sobre o câncer, saiba que há outro agente bioativo na fruta: a quercetina. "Trata-se de um bioflavonóide antiinflama- tório e antioxidante que age na prevenção de patologias como cânceres", acrescenta a nutricionista funcional Daniele Jobst.
O consumo de uva impede a formação de placas nos vasos sanguíneos
A OUTRA ALIADA
Benefícios parecidos vêm da igualmente estudada antocianina, pigmento natural membro da família flavonóide (responsável pela cor dos alimentos) que também atua na prevenção de doenças cardiovasculares e degenerativas, além de evitar que a gordura e a insulina fiquem acu- muladas no sangue.
Para se ter idéia, a atividade antioxidan- te desse composto é maior que a das vitaminas C e E. A substância minimiza estragos causados por inflamações e ajuda na cicatrização da pele com mais eficiência. Algumas pesquisas apontam até a diminuição dos sintomas do mal de Alzheimer, já que a tal antocianina consegue evitar a degeneração das células nervosas.
O antioxidante pode impedir a oxidação do LDL, a molécula que transporta o colesterol para todos os órgãos, evitando as temidas placas que deterioram os vasos sanguíneos e maltratam o coração. "Ele aumenta a quantidade do colágeno e da elastina, fortalecendo a parede capilar, arterial e venosa. Além disso, contribui para a flexibilidade e circulação do sangue", ressalta Lucyanna.
Processo parecido ocorre com as células de gordura. Um estudo feito por cientis- tas da Universidade de Chubu, no Japão, observou que o pigmento pode regular o funcionamento dos adipócitos, o nome científico das células engordativas. Mais recentemente, foi a vez da prociani- dina, outra enzima encontrada nas uvas, que pode funcionar como vaso dilatador agindo também na proteção do siste- ma cardiovascular, segundo o estudioso Roger Corder, do Instituto de Pesquisa William Harvey, em St. Bartholomew, e da Universidade de Londres, e autor do livro The Wine Diet (A Dieta do Vinho, em tradução livre e sem previsão de lan- çamento no Brasil).
Já uma pesquisa realizada este ano na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) constatou que o bagaço de uva (casca e semente da fruta), subproduto do processamento de vinhos e sucos, reduz o risco de doenças cardiovasculares.
De acordo com a tese, defendida pela nutricionista Emília Yasuko Ishimoto e feita a partir de testes com animais, o bagaço representaria uma ótima fonte de fibras e antioxidantes naturais.
BOA PARA DIABÉTICOS
Todo o poder antioxidante da uva contribui para que as células fiquem em equilíbrio no corpo e aumentem a resistência à insulina, o mal que deflagra o diabetes tipo 2. O alimen- to consegue, inclusive, evitar males do globo ocular, como a catarata, doença que pode prejudicar a vida dos diabéticos se os níveis de glicose não estiverem controlados.
Hit entre as frutas
A uva está entre as frutas mais cultivadas no mundo. Segundo dados da Food and Agriculture Organization, as plantações de uva correspondem a quase 70 milhões de toneladas, perdendo apenas para as lavouras de bananas. Desse total, cerca de 80% é utilizado na fabricação de vinhos.
Cada uva representa uma diferente variedade, denominada de cepas ou castas. As uvas que originam os melhores vinhos são da espécie Vitis vinífera, de origem européia, que possui inúmeras castas, entre as quais se destacam: Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Syrah e Chardonnay.
As demais espécies são de origem americana e, em geral, não são adequadas para a elaboração de vinhos, e seu uso é mais indicado ao suco. Essas espécies também possuem muitas variedades, cujos melhores exemplos no Brasil são a Niágara e a Isabel.
Mas o efeito antioxidante também faz sua parte. "O diabetes traz como consequência, a médio e longo prazo, o entupimento das artérias", salienta Lucyanna. Como a fruta ajuda a me- lhorar a circulação e evitar o apareci- mento de plaquetas no sangue, cola- bora para livrar quem sofre da doença dos riscos de aterosclerose.
Apenas não exagere! "O excesso de vinho ou suco de uva pode aumen- tar os triglicerídeos, por causa do elevado conteúdo de carboidratos", diz a nutricionista.
ÔMEGA-3 POTENCIALIZADO
Outra boa notícia em relação à uva é que o alimento estimula a presença de ômega-3 no organismo. "O consumo de vinho, associado à dieta do medi- terrâneo [veja box na página 22], ajuda a aumentar esses ácidos graxos no sangue", conta Daniela Jobst. "Os antioxidantes do vinho e do suco de uva atuam sobre essa substância no tubo digestivo e nos tecidos, pois o ômega- 3 se oxida com facilidade", diz. "Daí a importância das recomendações em seguir uma dieta equilibrada e saudá- vel, tendo o vinho como ingrediente especial", completa.
Vale lembrar, o ômega-3 é importante para o funcionamento cardiovas- cular. "Diversos estudos científicos têm demonstrado que ao consumir alimentos ricos nesses ácidos em quantidades adequadas diminui-se o número de mortes por infarto", indica a nutricionista.
A especialista fala que a ingestão dessas gorduras do bem diminui a agressão plaquetária e a coagulação do sangue, regula os níveis sanguíneos de triglicérideos e colesterol, aumenta a resposta vasodilatadora das artérias, reduz o risco de trombose e tem ação antiinflamatória, antialérgica e antican- cerígena! Nada mal, certo?
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Torta de uva
INGREDIENTES PARA A MASSA
1 xícara (chá) de farinha de trigo
1 colher (sopa) de óleo
1 colher (sopa) de margarina light
1 colher (chá) de açúcar
2 colheres (chá) de fermento em pó
INGREDIENTES PARA O RECHEIO
2 colheres (sopa) de chocolate meio amargo derretido (para decorar)
1 envelope de gelatina sem sabor
24 uvas Itália
1 colher (chá) de essência de baunilha
1 colher (sopa) de açúcar
4 colheres (sopa) de leite em pó desnatado
2 colheres (sopa) de maisena
PREPARO
Para a massa, peneire a farinha de trigo, o fermento e o açúcar em uma tigela. Junte a margarina e misture esses ingredientes com as pontas dos dedos até ficar Homogênea. Aos poucos, acrescente 5 colheres (sopa) de água, sem parar de mexer, até obter uma massa lisa. Cubra a tigela e deixe descansar por 10 minutos. Ligue o forno à temperatura média. Abra a massa e forre 6 fôrmas quadradas de 7 centímetros, untadas com o óleo. Fure-a com um garfo e leve ao forno por 35 minutos, ou até dourar levemente. Retire e reserve. Para o recheio, coloque em uma panela a maisena, o leite e o açúcar em 1/2 de água. Leve ao fogo, mexendo sempre, por 5 minutos, ou até encorpar. Retire e misture a essência de baunilha. Despeje o recheio sobre a massa e distribua as uvas. Em seguida, cubra com a gelatina, dissolvida de acordo com as instruções da embalagem. Leve à geladeira por 2 horas, ou até o recheio ficar firme. Decore as tortinhas com fios de chocolate meio amargo.
RENDIMENTO
Seis unidades
FIBRAS, VITAMINAS E SAIS MINERAIS
Não bastasse a importância antioxidante, a uva ainda é rica em nutrientes. Sim, o fruto carrega boas doses de minerais como o ferro, o potássio e o cálcio, im- portantes para fortalecer a musculatura, o esqueleto e estimular a formação de células vermelhas do sangue.
O alimento também é abundante em pectina, um tipo de fibra queridinha dos nutricionistas, porque age contra os pi- cos de glicose, atuando como aliada dos diabéticos e de quem deseja manter as curvas esbeltas - o nutriente evita aque- les ataques de gula à geladeira.
E por falar em controlar a fome, a uva também carrega vitamina A, que tem jus- tamente essa função, além de afastar a degeneração macular, mal que acomete o fundo dos olhos. Além disso, a fruta conta com vitaminas do complexo B, essenciais para manter a saúde dos nervos, pele, olhos, cabelos, fígado e boca, e a vitamina C, que também funciona como um antioxidante natural.
A uva acumula ainda outros méritos, como ser estimulante digestivo e das funções hepáticas, combater a acidez sanguínea, atuar beneficamente no intestino, possuir ação anti-hipertensiva, diurética e ser aconselhável até no tratamento de anemia.
O fruto carrega boas quantidades de ferro, potássio e cálcio
VINHO OU SUCO?
"As bebidas são mais ricas em agentes bioativos que a uva in natura. Pequenas doses de álcool (isto é, 30 ml por dia) ajudam a elevar o colesterol bom (HDL). Portanto, a combinação de álcool e fitoquímicos presentes na uva potencializam a ação benéfica deste alimento funcional", explica Daniela.
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Uma pesquisa divulgada em um congresso em Bordeaux, na França, em outubro do ano passado, com o suco da uva do tipo Concord, mostrou que a bebida provoca um relaxamento das arté- rias de maneira similar ao causado pelo vinho tinto. Um grupo de pesquisadores da Universidade Louis Pasteur de Estrasburgo, na França, comprovou que o efeito benéfico do suco dessa uva durou mais que seis horas, coisa não ocorrida com o vinho tinto.
Já um estudo publicado em 2005 com pacientes do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), avaliou 16 pacientes com altas taxas de colesterol ruim. Eles foram divididos em dois grupos. Um tomou o vinho, o outro, o suco.
Durante um período, os dois grupos ficaram sem ingerir nenhuma das duas bebidas. Ao fim das pesquisas, para ambas as turmas, a camada interna que reveste os vasos sanguíneos (endoté- lio), que apresentava disfunção devido ao colesterol ruim, voltou ao normal.
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Que paradoxo!
Por mais estranho que pareça, o vinho como valor terapêutico vira e mexe se transforma em notícia. Mas o tema não é novo. O mais importante estudo sobre os efeitos benéficos do vinho para a saúde cardiovascular foi feito há mais de duas décadas por médicos da Europa e Estados Unidos, e conhecido como "paradoxo francês".
A culinária francesa sempre foi generosa no uso de laticínios - manteiga, creme de leite, queijos - e carnes. Mas, apesar disso, os franceses apresentavam baixos índices de doenças coronarianas.
Após uma série de pesquisas, concluíram que um dos motivos estava na "compensação" trazida pelo vinho tinto, sempre presente nas refeições dos franceses. "O paradoxo confirma a baixa incidência de doença da artéria coronária apesar de uma dieta rica em gordura saturada e é uma clara indicação de que os polifenóis podem ter um papel protetor frente as doenças cardiovasculares", diz Lucyanna Kalluf.
QUANTIDADE DIÁRIA
Uma taça de vinho ou um copo de suco de uva - ou seja, 150 ml de uma das bebidas - por dia é o suficiente para aproveitar as vantagens da fruta, ga- rantem os especialistas. Isso não significa que você deva dispensar um belo cacho. Seja qual for a escolha, pede-se parcimônia.
Os vinhos são obtidos da fermentação do suco de uvas frescas. O processo é utilizado para a obtenção de álcool a partir dos açúcares do suco da fruta. Do ponto de vista nutricional, o álcool é a substância mais calórica presente no vinho. Ele contribui com sete calorias por grama, enquanto o açúcar com quatro. Uma taça de vinho com 24 g de álcool resulta em 168 calorias. Sem contar que o consumo excessivo de álcool está associado a fatores de risco (como obesidade, colesterol alto, hipertensão) e pode ter efeito contrá- rio, ou seja, favorecer as moléstias car- diovasculares.
VERDE, VERMELHA E ROXA
Na casca e nas sementes da uva estão os tais flavonóides, responsáveis pela ação antioxidante da fruta. Quanto mais vibrante a cor da casca, maior o poder antioxidante. Ou seja, uvas vermelhas e roxas e o suco das mesmas cores são os mais poderosos.
Isso não quer dizer que você deva dispensar a uva verde. "Ela tem mais catequinas [as mesmas do chá verde], que também são importantes no efeito antioxidante e antiinflamatório", lembra Lucyanna.
E se no supermercado ou na feira você não souber que tipo de uva comprar, lembre-se sempre que as uvas com cas- cas mais escuras têm maior concentração de polifenóis.
